"O jogo no Dragão foi um clássico muito competitivo e taticamente fechado pela importância que este duelo representava. Fisicamente muito intenso, com um FC Porto mais pressionante e subido na primeira parte, frente a um Benfica mais expectante, mas bem organizado. No segundo tempo, a dinâmica do FC Porto baixou muito, aparentemente pelo desgaste do pressing exercido. O Benfica foi, então, mais controlador e confiante, embora pouco ameaçador, acabando por ser aceitável a opção de Mourinho relativamente ao equilíbrio que preferiu escolher com a entrada de Leandro Barreiro.
Uma derrota no clássico era tudo o que não podia acontecer, tendo em conta o contexto pontual corrente. Os guarda-redes tiveram uma noite descansada, resultado da solidez e rigor das duas equipas. No Benfica, António Silva foi o melhor elemento da defesa, que também teve um Dahl melhor do que vinha sendo. Estes são os jogos em que as dúvidas se tiram e em que os mais fortes se impõem. Na frente, foi tudo muito centralizado e de costas para a baliza, matéria em que Pavlidis é mestre, mas os desequilíbrios quase não existiram, só com algumas exceções de Lukebakio.
3x3
Mourinho decidiu tentar anular o meio campo do FC Porto e conseguiu, através do posicionamento de Sudakov e de dois pivots, encaixando nos três médios portistas. Os médios do Benfica acabaram por ser decisivos, superiorizando-se, qualquer deles, aos adversários diretos. Exemplo mais expressivo foi a dupla Enzo e Froholdt. O jovem jogador dinamarquês vinha sendo dos mais influentes portistas e este confronto consagrou, também por isso, Enzo Barrenechea como o melhor em campo. Enzo foi também o jogador com a maior percentagem de passes certos. Já Ríos vai evoluindo e mostrando o seu poder, fortalecendo fisicamente um setor onde muito dos jogos se ganham.
Quanto a Sudakov, tem a versatilidade dos craques, requintado onde quer que jogue. Foi a nuance apresentada por Mourinho. Aproximou-o de Pavlidis e das decisões, libertando-o do desgaste lateral que seria a oposição a Alberto Costa. O controle de Varela foi rigoroso e acabou por se revelar igualmente fundamental. Cumprido que foi mais um difícil desafio, mesmo com todo o seu trajeto, Mourinho terá vivido uma das semanas mais intensas da sua carreira, voltando a dois clubes que, na verdade, definitivamente o consagraram.
Seleção com tempo
Muito se fala, e com razão, na falta de tempo para treinar. Sendo uma realidade difícil de alterar no futebol profissional, esta limitação é ampliada nas equipas com muitos internacionais e que disputam competições europeias. No caso do Benfica deste ano, o tardio final de época e o calendário competitivo apertado encurtaram drasticamente a preparação da equipa. Os difíceis compromissos iniciais e as alterações no plantel, completaram um quadro complicado de resolver. Esta nova pausa de seleção cria uma nova verdade.
No caso do Benfica, as seleções hoje acabam por ter mais tempo para treinar do que alguns clubes, que pouco mais conseguem fazer do que recuperar do jogo anterior. Não deixa de ser, no entanto, esta pausa um período em que os jogadores também têm mais tempo de recuperação, física e mental. Em termos da coordenação da equipa, não deixa de ser mais um corte nas ligações coletivas que o Benfica e Mourinho pretendem.
Sudakov 'fan'
Volto a Sudakov e confesso, se é que já não o fiz, a minha admiração por este reforço. Os jogadores talentosos são, muitas vezes, descuidados naquilo que vai para além do seu contacto com a bola. Ao contrário, este jovem recém-chegado junta a sua capacidade técnica à responsabilidade tática que lhe é confiada.
O exemplo de jogador que ouve e cumpre com rigor o que lhe é pedido. É tudo aquilo que um treinador deseja. Na ala ou no meio, como no último jogo, a sua presença faz sentido e diferença. Neste último clássico, a sua ação de controle do adversário direto foi, como já antes referi, fundamental para a equipa. Os dados estatísticos que resultaram deste jogo mostram Sudakov como o jogador sobre quem foram feitas mais faltas. Um jogador que pede a bola, não se esconde, seja qual for o contexto. Uma exibição de sacrifício tático, mas inteira.
Panorâmica
Não me custa entender o porquê de Luís Enrique querer voltar a observar a sua equipa da bancada, na primeira parte dos jogos. O treinador espanhol não esteve no banco de suplentes do PSG durante a primeira parte da vitória, em casa, por 2-0, sobre o Lens, devido a uma clavícula partida. Porque é tradicional os treinadores estarem no banco, não quer dizer que essa seja a melhor opção. Com equipas técnicas atualmente tão extensas, cada vez mais se justifica olhar em frente e, se possível, do cimo da bancada para baixo.
O tempo de intervalo é aquele em que os treinadores conseguem intervir e de uma maneira mais efetiva. Se tiverem a melhor perspetiva de observação da equipa durante o primeiro período, a mensagem só pode ser mais objetiva e melhor. E isso não se consegue, de todo, no banco e à flor da relva. Pode ser que a ideia pegue e que a triste rábula que treinadores e respetivos guarda-redes interpretam atualmente, deixe de ter lugar. Era de bom tom que os jogos passassem a ser interrompidos só por verdadeiras razões e não pelo antijogo a que os donos das balizas são obrigados e que as regras existentes não conseguem impedir. Um bom desafio para quem regula."

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