"A semana que terminou foi fértil em acontecimentos relevantes. Ao contrário do que seria esperado, o foco não esteve nos relvados nem nos protagonistas do jogo. As luzes estiveram centradas nos presidentes dos três grandes que teimam em ter protagonismo sempre pelas más razões. Percebemos ainda que vivemos um momento atípico no futebol português, eu diria que estamos a atravessar a era dos mapeamentos no futebol!
Ambiente tóxico
Não me recordo de presenciar um ambiente tão tóxico à oitava jornada da Liga. Os constantes comunicados e declarações de clubes, e dos seus presidentes, têm sido uma norma. Ora se atacam as arbitragens, ora se atacam os adversários. No caso das críticas à arbitragem parece-me que a conclusão é óbvia: todos emitem comunicados porque pretendem condicionar os árbitros e porque entendem que esta estratégia traz realmente benefícios. No meio de tudo isto só não percebo uma coisa. Ora se a reação às atuações dos árbitros portugueses é tão rápida e feroz, por que motivo os três grandes não seguem a mesma estratégia nos jogos das competições europeias? Será que os árbitros nos jogos internacionais em que Benfica, FC Porto ou Sporting participam não erram? Erram e erram bastante. Então por que motivos os três clubes portugueses não fazem participações para a UEFA, não emitem comunicados e não proferem declarações públicas a criticar os árbitros em causa? Não o fazem por três motivos muito simples. O primeiro é porque vão ser penalizados se o fizerem. O segundo é porque essa forma de pressionar os árbitros, na Europa, não traz benefícios nenhuns. O terceiro motivo é porque os três grandes precisam muito das competições europeias para equilibrarem as suas contas e para beneficiarem do prestígio que estas competições lhes conferem.
Mapeamento da FPF
Esta semana ficámos igualmente a saber algo incrível. Em resposta às acusações que existe um «manto verde» na FPF, Frederico Varandas abordou o tema de uma forma muito direta. Informou-nos que o presidente da FPF ficou muito surpreendido com tal perceção e revelou que existe um alegado mapeamento de afinidades clubísticas, feito por Pedro Proença, com a percentagem de pessoas dos órgãos sociais que são do Benfica ou do Sporting!!! Este facto leva a discussão para outro patamar. Acredito que o presidente da FPF tem muito trabalho no dia a dia. Não me parece que faça sentido estar a perder tempo a saber de que clube são os funcionários que com ele trabalham, mas então porque é que este mapeamento é feito? Será que as pessoas são escolhidas em função do clube de que são adeptos e não da sua competência? Este é um critério para Pedro Proença? É importante para os clubes saberem que os cargos estão divididos por adeptos dos três grandes? O critério mais importante não deveria ser as competências que cada um tem? Será que Pedro Proença coloca em causa o profissionalismo e independência daqueles que trabalham consigo e por esse motivo tenta equilibrar os cargos por simpatia clubística? A FPF não é a federação de todos os clubes, ou só se preocupa com os três grandes? Quem viu a gala da FPF, que mudou de nome este ano, percebe o que estou a referir. Basta verificar a forma como os prémios foram entregues. O Sporting recebeu um prémio porque foi campeão nacional masculino, o Benfica recebeu um prémio porque foi campeão nacional feminino e o FC Porto recebeu um prémio porque iniciou a aposta no futebol feminino e subiu da terceira para a segunda divisão! Quando vi esta atribuição fiquei um pouco confundido, então e a equipa que subiu da segunda divisão para a primeira, não merece um globo? Ou o Torreense? Que venceu a Taça de Portugal e a Supertaça frente ao todo poderoso Benfica. O Torreense e o Vitória não se esforçam por implementar e desenvolver o futebol feminino? Não fazem muito com pouco? Por que motivo não foram igualmente premiados? Parece-me que a resposta é óbvia: Torreense e Vitória Sport Clube não foram premiados porque não estão abrangidos pelo mapeamento que existe na FPF. Por outras palavras, se o Sporting e o Benfica receberam um prémio, o FC Porto também tinha de receber, porque apesar de Pedro Proença apregoar que é o presidente de todos os clubes, a verdade é que uns são filhos e outros enteados…
Excelência ou realidade alternativa
Aparentemente toda esta crispação a que temos assistido na praça pública tem passado ao lado do presidente da FPF, que se tem concentrado em promover-se através de eventos onde é a figura central. Estranho o facto de, no meio de tantos discursos, não ter tido a oportunidade de apelar à calma, de chamar a atenção dos presidentes dos clubes que este não pode ser o caminho e de reforçar o seu posicionamento a favor de um futebol diferente, a todos os níveis. Será que Pedro Proença vê uma realidade diferente da nossa? O prémio Excelência que foi atribuído com total responsabilidade pelo presidente da FPF reforça a minha convicção de que vejo uma realidade diferente de Pedro Proença. Quando foi o momento da entrega do prémio Excelência ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, Proença referiu o seguinte. «Este prémio é para quem se notabilizou pelos serviços prestados ao futebol português», acrescentando ainda «é um prémio por tudo o que tem feito pelo futebol português». Nada contra o nosso Presidente da República, mas como é que se resume o impacto que teve no futebol português? O único impacto conhecido é a forma como condecora aqueles que vencem provas importantes! Será que são estes os serviços prestados ao futebol português? Então o que podemos dizer daqueles que dedicam uma vida a treinar na formação à chuva e ao frio, sem receberem qualquer recompensa? Ou aqueles que se esforçam, sem meios, para motivar as meninas a praticarem futebol e com isto a desenvolverem a atividade? Ou outros que são essenciais no crescimento dos jovens atletas que mais tarde chegam a patamares internacionais? Ou aqueles que semana após semana, com chuva ou com sol, estão presentes nos distritais a dar o melhor de si em regime amador? Mais uma vez, a escolha do vencedor de um prémio tem outros motivos por trás. A própria reação de estupefação de Marcelo Rebelo de Sousa diz isso mesmo. Para o futebol português evoluir, será importante que a FPF perceba que o futebol não são só as elites ou os clubes grandes. Será igualmente importante perceberem que não vivemos de aparências, mas sim de realidade."

Sem comentários:
Enviar um comentário
A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!