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sábado, 30 de agosto de 2025

O grande fosso


"O título, roubado a uma aventura de Asterix da minha infância, vem a propósito da diferença de qualidade que se acentua, a cada dia de mercado, entre os emblemas mais ricos e os demais concorrentes à principal Liga portuguesa.
Cresce esse fosso, é mesmo essa a palavra, com os grandes a rondarem, cada um deles, os 100 milhões de investimento, e o Braga a investir o que só costumavam gastar os grandes tradicionais. Dantes, por 20 milhões, Benfica, Porto ou Sporting vendiam, agora compram.
Algumas motivações para este reforço de risco são óbvias e as de sempre, da natural vontade de vencer à perceção de que estar nas provas da UEFA tornou-se imprescindível. As outras são razões de contexto, mas não menos relevantes: o Benfica tem eleições à vista e precisa de chegar competitivo (mesmo liderante) ao final de outubro; o FC Porto vive o seu “ano zero+1” e os adeptos não perdoarão a Villas-Boas nova travessia de deserto; o Sporting conhece a realidade dos rivais, pelo que um tricampeonato não só os fragilizará mais ainda como reforçará a ideia de uma hegemonia leonina há poucos anos impensável.
Indiscutível é que os três grandes estão a completar plantéis fortíssimos e com soluções para todas as variantes. O Sporting reforçou as laterais como precisava (com Vagiannidis e Mangas), o meio-campo com mais uma alternativa fiável (Kochorashvili) e o ataque com dois craques (Luis Suarez e Ioannidis), a que pode acrescentar ainda Jota Silva.
O Benfica juntou Dedic (uma excelente compra!) e Obrador à defesa, fez apostas firmes em Barrenechea, Ríos e Sudakov para o meio-campo e no ataque garantiu Ivanovic, a quem acrescentará mais um extremo de topo (com Akturkoglu na porta de saída).
O FC Porto tem, com precisava, um novo centro da defesa (com Kiwior a juntar-se a Bednarek), melhorou muito a qualidade do meio-campo (Gabri Veiga, Froholdt, Rosario), com espaço para mais um elemento (sobretudo se Mora sair), e acrescentou perfis que não tinha (De Jong e Borja Sainz) a um ataque que também deve receber mais um extremo.
E até o Braga, o quarto grande, somou à qualidade anterior (sem deixar sair Roger e “recuperando” Zalazar”), gente como Pau Victor, Dorgeles, Lelo, Moscardo, agora também Grillitsch. Não me lembro de tanto reforço de qualidade e tão generalizado. Isto resultará, à partida, em três dimensões na Liga que agora saiu do adro: a dos grandes, a dos outros quase todos… e a do Braga pelo meio.
E assim, com o mercado ainda a borbulhar, chegamos a um primeiro clássico de expectativa enorme. Em Alvalade, teremos duas equipas melhores do que parecia possível no início de agosto. O Sporting está mais coletivo e o Porto já mostra coletivo. O Sporting está goleador, o Porto também. O Sporting sobrevive à perda de Gyokeres, o Porto vive sem o embalo de Mora. O Sporting tem os adeptos entusiasmados, o Porto idem.
Claramente Francesco Farioli não precisou de segunda oportunidade para uma boa primeira impressão, mas Rui Borges está a aproveitar a segunda oportunidade para melhorar a primeira impressão. Os leões estão mais associativos e com mais variedade de jogo – a inclusão de Luis Suárez favorece-o e a recuperação do melhor Pote é crucial – enquanto o Porto desenvolve ainda o seu jogar em ataque posicional, mas impressiona já pela forma como impede que os adversários joguem.
Vai ser fogo contra fogo, parece-me. E, se se confirmar, vai ser bonito de ver."

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