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segunda-feira, 21 de julho de 2025

Benfica: planeamento desportivo ou eleitoral?


"O que se pede a uma estrutura de um clube nos dias de hoje? Numa primeira análise, é importante que exista compromisso, união e respeito entre todos aqueles que têm cargos de liderança. Depois destes pressupostos essenciais, será fundamental que aqueles que têm cargos de decisão saibam antecipar cenários e trabalhem a pensar no presente e no futuro, ou seja, que não tomem decisões ao sabor do vento.

A importância de um bom planeamento
Este é um ano diferente para o Benfica. As eleições de outubro são importantes para os sócios escolherem o caminho que pretendem seguir: a manutenção de um ciclo de vícios criados durante anos (Rui Costa e Vieira) ou um corte com o passado (João Diogo Manteigas, Noronha Lopes ou Martim Mayer). Hoje o meu foco está na vertente desportiva, onde o Benfica também está a viver um ano atípico. A época 2024/25 foi longa e desgastante. Todos sabiam que a presença no Mundial de Clubes iria ser benéfica financeiramente, mas iria criar dificuldades no planeamento da época seguinte. Desta forma o que deveria ter sido feito? Deveriam ter sido antecipados vários cenários de forma a que o clube estivesse preparado para o que iria encontrar pela frente.
Por norma, a próxima época começa-se a planear com muita antecedência. Em janeiro já devem estar identificadas as posições que irão necessitar de ser reforçadas. Em simultâneo, quem gere a vertente desportiva deverá ter uma ligação com a área financeira para perceber qual a capacidade para ir ao mercado, e quais os valores que terão de ser concretizados em transferências, de forma a que as contas fiquem equilibradas no final do ano fiscal. Assim, em janeiro os clubes devem começar a trabalhar em vários campos: organizacional, com a preparação da pré-época tendo por base diferentes cenários; desportivo, com a identificação das posições e dos alvos que se pretendem contratar; financeiro, sabendo quais as necessidades de vendas de jogadores que terão de ser feitas para equilibrar as contas.
Ora, no caso do Benfica, tendo em conta que iria disputar o Mundial de Clubes, o planeamento desta época deveria ter sido equacionado em dois cenários: se tivesse sido campeão nacional teria mais margem para preparar a época uma vez que entraria diretamente na Liga dos Campeões; se ficasse em segundo teria de estar preparado para ter o plantel praticamente definido no início de julho. Em teoria era isto que deveria ter acontecido. Na prática foi o inverso. O exemplo da marcação da Supertaça Cândido de Oliveira é paradigmático, pela forma como no dia 16 de junho se acorda uma data com Sporting e FPF sem pensar nas consequências.

Riscos de um mau planeamento
Todos percebemos que o Benfica é um clube que, como diz o seu treinador, vive um dia de cada vez. Eu acrescento que os seus dirigentes vivem um dia de cada vez a pensar em outubro e não no futuro do clube! Isso percebe-se pela forma como são tratados todos estes temas de vital importância. A realidade é que estamos a 11 dias da final da Supertaça e existem inúmeras indefinições no plantel encarnado.
Quais as consequências desta forma de trabalhar? A primeira é a ausência de condições para que Bruno Lage possa utilizar a pré-época para criar rotinas e trabalhar a mecanização da equipa, e que poderão ter consequências nos importantes e determinantes desafios que o clube irá ter pela frente no curto prazo (Supertaça + pré-eliminatórias de Liga dos Campeões). A segunda é que o facto de não ter um plantel próximo de estar fechado faz com que inúmeros potenciais reforços sejam abordados e falados. Isto traz dificuldades adicionais ao treinador encarnado, uma vez que muitos jogadores do plantel sentem que não têm presença garantida, o que acaba por influenciar o foco, compromisso e união entre todos. Por fim, outro efeito colateral desta forma de gerir é que os alvos que o Benfica tem identificados e pretende contratar ficarão inflacionados, uma vez que quem os vai vender sabe da urgência e necessidade que o Benfica tem em fechar as suas contratações.

Formação 'vs' investimento externo
É certo e sabido que o Benfica tem uma formação muito conceituada e valorizada no mundo do futebol. No último ano o clube encarnado foi campeão em todos os escalões, mesmo com uma estratégia que faz com que jogadores mais novos joguem nos escalões acima. Outro ponto relevante é que as seleções nacionais têm constantemente a presença de jogadores do Benfica. Por exemplo, o Benfica teve 9 jogadores na seleção campeã europeia de sub-17. Estranho o facto de num plantel com 25 jogadores não serem criadas condições para que os jovens da formação tenham espaço e tempo para poder demonstrar o seu valor.
O mais recente exemplo foi a contratação de Barrenechea. O argentino tem 24 anos é um jogador com potencial, joga como médio mais recuado, é agressivo, varia o corredor com facilidade, mas não se aproxima muito da baliza do adversário. Tem o upgrade de poder chegar à seleção argentina o que pode gerar bom rendimento financeiro no futuro. Contudo, se analisarmos as alternativas, o Benfica podia ter optado por fazer regressar Diogo Nascimento. Trata-se de um jovem de 22 anos que fez um grande europeu de sub-21, que pode jogar a 6 ou a 8 e que tem uma enorme capacidade de construção. É um jogador que pode jogar na mesma posição de Barrenechea, mas com caraterísticas diferentes. A sua qualidade na construção e a capacidade de gerir os momentos do jogo poderiam ser mais-valias, assim como a forma como se consegue integrar no último terço do terreno. O investimento seria muito mais reduzido, aproximadamente €2 M vs €15 M . Mais uma vez o Benfica preferiu olhar para fora e não para dentro. O Diogo irá continuar a carreia no Olympiakos que irá disputar as pré-eliminatórias da Liga dos Campeões.

A valorizar: Luís Freire
Uma carreira feita a pulso. Passou por todos os escalões do futebol português com enorme qualidade. Chega agora aos sub-21 portugueses com todo o mérito.

A desvalorizar: Rui Caeiro
Depois da confusão em torno da sua nomeação para vice-presidente da FPF, agora assume o pelouro da arbitragem. Trata-se de uma decisão surpreendente!"

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