"Neste sábado joga-se o dérbi eterno entre Benfica e Sporting.
Tudo pára!
Tudo se comenta. Tudo se transforma em cliques, em horas de antena e em guerras de opinião. Nada contra.
O futebol é cultura, é identidade, é catarse coletiva. Mas há momentos em que o Mundo grita mais alto do que o bruaá da bancada.
Lá fora, o planeta incendeia-se: crianças morrem à fome em Gaza devido ao bloqueio à ajuda humanitária; a guerra na Ucrânia continua a alimentar o medo nuclear; o Paquistão e a Índia precipitam-se para o fratricídio; a Europa rearma-se numa nova corrida que já conhecemos, e sabemos como acaba. E nós por cá?
Por cá discute-se o onze do Benfica. A forma de Gyökeres. A nomeação do árbitro.
Mas também por cá andamos em plena campanha eleitoral, com uma extrema-direita que sequestrou a agenda política do poder vigente. E agora, estes interesses oportunistas e obscuros, já não escondem o desejo de apagar rostos e vozes que não encaixem no seu retrato monocromático do que é ser "o bom português”.
E se parássemos um segundo para imaginar como seria o dérbi de sábado num país tomado por essa visão identitária e fechada da Humanidade?
Vamos ao onze. Mas só com “os nossos”.
Sem Otamendi, Di María, Bah, Trubin, Aursnes, Kökçü, Carreras, Pavlidis, Arktürkoglu, ou Amdouni No Sporting, nada de Gyökeres, Hjulmand, Diomande, Morita, Geny Catamo, Debast, St. Juste, Maxi Araujo, Harder, Matheus Reis, ou até, para os puristas da Lusitânia, sem um Pedro Gonçalves, nascido em Chaves mas com sangue africano na herança familiar. E não se fiquem a rir os benfiquistas, porque nesse caso nem o Florentino calçava, e muito menos o Renato.
Seria um dérbi amputado, empobrecido, isolado, sem classe, com menos golo, e pouca magia.
Um embate para a história entre duas equipas mutiladas pela ignorância. Um futebol sem alma, como o país em que muitos gostariam de voltar a viver.
O dérbi de sábado é uma celebração da diversidade!
Do génio que vem de fora. Da garra que se soma à nossa. Da riqueza que é ter num mesmo relvado todas as cores, línguas e mais histórias. O futebol português não seria grande coisa sem todo um mundo cá dentro. E Portugal também não.
Por isso, celebremos o dérbi. Mas de olhos bem abertos.
Porque há coisas muito mais importantes do que o futebol. E é por essas que vale mesmo a pena lutar."

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