"Um evento memorável demonstrou em toda a sua plenitude a grandeza cultural do clube
Na noite de 10 de Dezembro de 1957, com palco no Cinema Império, a Secção Cultural do Benfica organizou um grande festival de arte, tendo por mote a segunda atuação do seu Orfeão. Amplamente noticiado no jornal do Clube, o espaço foi pequeno para acolher todos os dirigentes, atletas, associados e simpatizantes que fizeram questão de marcar presença no evento.
Abriu o espectáculo a Orquestra da Emissora Nacional, regida por Frederico de Freitas, que apresentou vibrantes interpretações do Rossini, Schubert, Granados e Bizet, demordamente aplaudidos por toda a plateia. Seguiu-se Maria Barroso, mulher da cultura e de causas sociais, exímia na arte da declamação, que encheu o palco com a sua voz quente, jovem e expressiva. No seu repertório figuravam nomes maiores da poesia como Fernando Pessoa, Gabriela Mistral, Nazim Hikmet, António Nobre, Pablo Neruda e José Gomes Ferreira. A singularidade da sua interpretação e a vibrante comunicação com o público captaram toda a atenção da sala, que, no final do ato, brindou a artista com uma grande salva de palmas.
Momentos depois, foi a vez de o maestro Campos Coelho, um dedicado benfiquista, daqueles que sentem verdadeiramente o fervor clubista à flor da pele, se apresentar em palco, acompanhado por Maria João Pires e António Vitorino d'Almeida, jovens e prodigiosos pupilos que, anos mais tarde, se tornariam nomes cimeiros no panorama da música clássica. Foram interpretadas obras de Chopin, Liszt e Prokofiev, que muito agradaram a todo o público. De seguida, Campos Coelho chamou ao palco Paulino Gomes Júnior, diretor do jornal O Benfica, também ele seu antigo aluno, para torcerem o famoso Fado Burnay a dois pianos. No final da atuação, visivelmente emocionados, receberam vibrantes e calorosos aplausos de toda a plateia. Nos dias seguintes, sobre a insigne diretor de O Benfica foi escrito: 'Afinal, este homem não é apenas um grande benfiquista. É um grande artista!', afirmação que resumia na perfeição a personalidade deste eterno vulto do Clube.
A segunda parte desta grande festa ficou marcada pela brilhante atuação do recém-criado Orfeão do Benfica. Sob uma ténue luz azulada, o palco do Cinema Império recebeu um grupo de 140 figuras vestidas de branco, sobressaindo especialmente o seu naipe feminino. Sob a regência do jovem maestro Casimiro Silva, o Orfeão do Benfica interpretou obras clássicas de autores estrangeiros e do folclore português. A sua atuação exsedeu uma vez mais as expectativas, levando a sala ao rubro, que saudou efusivamente o conjunto a cada trecho com calorosas salvas de palmas.
Descubra mais históricos sobre a Secção Cultural do Benfica na área 16 - Outros Voos, do Museu Benfica - Cosme Damião."
Ricardo Ferreira, in O Benfica
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