"É a Liga dos Campeões que faz realçar o fato que melhor assenta ao FC Porto moldado pelo treinador: o de ‘challenger’
Pode parecer um contrassenso, mas a Liga dos Campeões veio em boa altura para o FC Porto. Numa fase em que a equipa é justamente acusada de falta de consistência e sem apresentar um futebol atraente capaz de satisfazer os seus adeptos, ter pela frente o vice-líder do melhor campeonato do mundo inverte o ónus, permitindo que o dragão volte a vestir o fato que melhor lhe assenta: o de challenger, aquele que gosta de desafiar as adversidades e tapar com o entulho possível o enorme fosso que existe entre um candidato à conquista da Premier League e o terceiro classificado da Liga portuguesa.
Há três traços identitários da marca Sérgio Conceição no FC Porto: transformação de jogadores (alguns eram banais e saíram como produto acabado premium), uma atitude competitiva que o levou a ultrapassar os limites do bom senso (embora esta época esteja muito diferente, para melhor) e uma constância na Liga dos Campeões em patamares elevados como nenhuma outra equipa portuguesa.
Voltar a competir na Champions é, de certa forma, voltar à praia do treinador há sete anos no comando técnico dos azuis e brancos. Nada lhe dá mais prazer do que preparar uma estratégia para determinado momento e adversário, principalmente se do outro lado estiver um opositor superior em quase tudo (na capacidade financeira, na qualidade dos jogadores e na estabilidade organizacional). Se tivéssemos de comparar Sérgio Conceição com Roger Schmidt, por exemplo, diríamos que o alemão adora a estabilidade e o português é adepto de algum improviso, de colocar nuances aqui e ali, neste ou naquele setor, numa constante necessidade de desafiar os outros e ser ele próprio desafiado. Uma inquietude permanente.
Daqui não se pretende inferir que um método ou escola é melhor que o outro, mas se a boa imagem na Champions do FC Porto se cola à cara do antigo internacional luso tal se deve ao facto de este ser o palco onde tudo o que de bom se faz no Olival é elevado à mais alta potência. Porque ao trabalho do treinador se junta aquilo que faz da Liga dos Campeões a melhor competição de clubes do mundo: a concentração dos jogadores está nos píncaros. Penso que esse tem sido, também, um dos problemas dos azuis e brancos nesta época: muitos alheamentos momentâneos, com uma cadência anormal, resultando em empates e derrotas em doses não habituais.
Resta saber, também, o que pretende o Arsenal desta Liga dos Campeões. É bom lembrar que os gunners têm como prioridade a conquista da Premier League, 20 anos depois do último título (os invencíveis de Arsène Wenger, com 26 vitórias, 12 empates e 0 derrotas) e estão apenas a dois pontos do líder Liverpool. O contexto não é assim tão diferente do que ocorreu na época passada, quando os londrinos defrontaram o Sporting nos oitavos de final da Liga Europa. Os leões, recorde-se, sorriram no fim, com aquele golo de meio-campo de Pedro Gonçalves no Emirates a pincelar uma aguarela de sorrisos. Como seria bom se o Arsenal fosse eliminado das competições europeias em dois anos consecutivos por equipas portuguesas. Seria positivo para o futebol nacional como um todo, mas em particular para Conceição, na enésima prova de que é um líder que nasceu para ser a linha que coze trapos soltos. Quer no ponto de vista tático quer na perspetiva organizacional. Se este FC Porto problemático ainda consegue sonhar, em 2024, com a presença nos quartos de final da Champions, é por causa dele. Outra vez."
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