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sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

O desperdício condena o Benfica na Taça da Liga das surpresas


"Em novo desfecho inesperado na competição, os campeões nacionais foram eliminados (5-4 nos penáltis depois de 1-1 no tempo regulamentar) pela equipa de Vasco Seabra, que estará na final contra o SC Braga depois de também já ter batido o FC Porto. O Benfica entrou a perder, conseguiu igualar mas foi demasiado ineficaz na finalização

O improvável vive na Taça da Liga 2023/24. A competição, cujo formato beneficia as equipas mais fortes, parece estar a brincar connosco, pregando-nos partidas, fintando prognósticos, talvez querendo dar-nos um banho de emoção antes da anunciada fuga do território nacional rumo a algum deserto árabe, abandonando, indiferente, os adeptos.
Já antes da pomposa final four de Leiria houve sinais, nomeadamente com a vitória do Estoril contra o FC Porto, eliminando os dragões da competição. Mas, nas meias-finais, as surpresas chegaram em dias seguintes, trocando-nos as voltas, de um aguardado Sporting-Benfica para um louvável Sporting de Braga-Estoril.
Depois do triunfo dos minhotos contra os leões, foram os canarinhos a eliminar os campeões nacionais, impondo-se, por 5-4, nos penáltis depois do 1-1 no tempo regulamentar. Riade, a Taça da Liga aguarda-te, mas não se vai embora sem mostrar que o futebol é futebol e, portanto, os caprichos da bola é que mandam.
E, em Leiria, os desejos dela voltaram a ser impossíveis de antever, como se uma vontade própria fosse superior a qualquer guião artificialmente redigido. Houve uma festa de ocasiões de golo criadas pelo Benfica, muitos expected goals, em linguagem estatística, remates ao poste, grandes defesas de Dani Figueira, falhanços dentro da área. O cacharolete de desperdício foi dos 90 minutos para os penáltis, onde Marcos Leonardo acertou em Figueira, Tomás Araújo acertou nos painéis de publicidade e as ineficazes águias foram eliminadas.
O Estoril, que nunca venceu um troféu do máximo nível em Portugal (Liga, Supertaça, Taça ou Taça da Liga), estará na final da Taça da Liga (sábado, 19h45, SIC). Nos quatro últimos jogos, o Estoril sofrera 14 golos e perdera cinco. Nos derradeiros 56 duelos contra o Benfica, só vencera um. Os caprichos e vontades da bola.
O Estoril, tão talentoso como irregular, tão criativo como frágil defensivamente, entrou com a estratégia do costume, tendo bola, atraindo o adversário e apostando na mota de resistência infinita de Rodrigo Gomes e no perfume de Rafik Guitane. E, claro, veio da associação entre ambos o 1-0, com o ala a ganhar a linha de fundo e o canhoto, à frente de Morato, a arranjar espaço para o remate.
Depois de uma relativa apatia nos primeiros 20’, o Benfica mudou de face, abraçando o desperdício, que se viu intensamente até ao intervalo. Aproveitando a postura do Estoril, sempre com a linha subida, a equipa de Schmidt valeu-se dos seus dois ases criativos — Di María e Rafa — para ficar, diversas vezes, próxima do 1-1.
No entanto, os mesmos que provocavam as melhores situações eram, também, quem as falhava. Após um grande passe de Kökçü a descobrir Aursnes, Rafa, isolado, não conseguiu bater Dani Figueira, que abria uma noite inspirada, tal como Di María, servido por Rafa, também não bateu o guardião do Estoril quando parecia ter tudo para igualar o marcador.
Enquanto Rafik Guitane ia dando o seu show particular, flutuando entre adversários, conduzindo com a canhota como se fosse um apaixonado que só quer passear com a sua amada pelo jardim, sussurrando-lhe poemas ao ouvido, Di María usava o pé esquerdo para criar problemas ao Estoril de bola parada. Os cruzamentos tensos do argentino são um convite à finalização, aproximando-se da baliza como se as redes produzissem uma força de atração à bola.
Na frente, Musa foi titular pela primeira vez desde o dérbi com o Sporting, a 12 de novembro. A exibição do croata foi quase sempre o conto do avançado sem confiança, tímido, pouco solícito a jogar fora da área e sem convicção nas raras ocasiões que teve para finalizar. Ainda assim, dentro deste encontro pouco inspirado, foi a sua não intervenção a facilitar o empate.
Aos 58’, Otamendi, após recuperação de bola, foi para a frente, um capitão dando o exemplo com a agressividade própria do campeão do mundo, que sempre foi um defesa com ousadia de atacante. O lance prossegui para João Mário, que o encaminhou para o centro, na direção de Musa. O croata viu a desmarcação de Otamendi e, inteligente, abriu as pernas, abrindo caminho para o argentino como quem constrói um túnel. 1-1 pelo pé direito do capitão.
Com a meia-final empatada, o Estoril foi passando a esticar-se menos no jogo enquanto, no Benfica, as ocasiões não se sucederam tão intensamente como no final do primeiro tempo e início do segundo, mas os protagonistas dos campeões nacionais foram os mesmos. Rafa e Di María, Di María e Rafa, o duo que destrói barreiras defensivas.
O argentino e o português combinaram, aos 82', para dar uma finalização aparentemente fácil ao mais recente menino bonito da Luz. Na área, enquadrado, Marcos Leonardo teve a passagem nos pés, mas esta noite o golo não queria nada com o ex-Santos.
Já com Álvaro Carreras, o outro reforço de inverno do Benfica, em campo, os descontos viram um lance de desenhos-animados em Leiria. Após um canto da esquerda, um desvio da defesa do Estoril levou a bola para Di María, numa situação muito difícil para rematar. O argentino, com a confiança dos predestinados, fez um remate que, se fosse visto num filme sobre futebol, nos levaria a pedir realismo ao realizar, de tão impossível que parecia a finalização. O tiro foi desviado por Figueira para o poste.
Nos penáltis, o guarda-redes do Estoril deu continuidade à sua grande exibição e travou Marcos Leonardo. No entanto, Trubin impôs-se a João Marques, deixando tudo igualado.
Na morte súbita, Tomás Araújo atirou para fora. O match point para o Estoril estava nos pés de Bernardo Vital, o rapaz de Cascais que chegou aos 14 anos ao clube. E esta edição da Taça da Liga, em vésperas da fuga para o estrangeiro, deixou-nos a última mensagem, com um miúdo que nasceu perto do estádio do Estoril a decidir o jogo, levando os canarinhos para a derradeira final em solo nacional antes da prometida aventura no deserto da competição."

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