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terça-feira, 13 de junho de 2023

Arábia Saudita. A Liga dos novos ricos


"Estão basicamente a matar o futebol. Os pais agora querem que os filhos pratiquem desporto, não pelos valores ou para serem saudáveis mas para serem ricos.

Ficámos a saber há poucos dias que o PIF (Public Investment Fund), um fundo de investimento do Estado saudita, comprou os quatro maiores clubes de futebol daquele país. Nas declarações à comunicação social, o governo anunciou que pretende que a sua liga seja das dez mais fortes do mundo. O clube onde joga Cristiano Ronaldo foi um dos incluídos num pacote, que quer levar a breve trecho outras estrelas do futebol europeu como Benzema e Kanté (já apresentados), Modric, Sérgio Ramos ou Jordi Alba, tendo tentado também, sem sucesso, Lionel Messi. Depois das famosas SADs, Sduqs e dos fundos que vieram alterar todo o paradigma do desporto rei, chega-nos agora um tempo em que para além da lógica mercantilista levada ao extremo, ainda temos uma mesma entidade que mexe os cordelinhos tipo marionetas e pode perfeitamente definir quem é campeão a cada ano, acelerando num ou desacelerando nos outros conforme vontade.
É verdade que a lógica do associativismo, do amor à camisola e dos clubes de bairro morreu há muito. Infelizmente. Por um lado devido a uma gestão danosa de quem se encontrava à frente dessas entidades mas também porque muitas vezes esses clubes eram pensados não para gerar grande lucros ou fortunas mas sim para servir a população e para dar uma oportunidade às crianças de praticarem desporto. Algo que fazia orgulhar as gentes da terra e que lhes imprimia uma competitividade saudável. Nos dias de hoje os clubes regra geral deixaram de ser dos sócios e mesmo nos que são, estes decidem pouco ou nada. É por isso que alguma da sua magia também se vai perdendo, pela forma como é tudo orientado para o negócio e não pelos valores e pela identificação com um símbolo.
O clube da minha terra, por exemplo, o Centro Desportivo de Fátima, sempre foi um orgulho dos locais, com imensos jovens a praticar desporto e jogadores formados localmente na equipa principal. Quando começaram a sonhar com outros voos de facto foi muito divertido mas quando se foram a ver as contas, o rombo era impagável. Qual foi a solução encontrada? Vender pelo valor da dívida a uns supostos salvadores, vindos das arábias. O resultado foi o mesmo que vários outros que vamos encontrando por aí: ordenados em atraso, dívida que nunca foi paga, um afastamento progressivo dos fatimenses dos jogos do clube, culminando com uma insolvência que o fez recomeçar do zero, na ultima divisão distrital.
Esta nova fórmula dos glutões e dos milhões não tem fim, é o tempo do “quem dá mais”, da concorrência desleal e da falta de capacidade das instâncias que regem o mesmo, de impor limites e quando o fazem tipo fair play financeiro, arranjam sempre uma forma dos mais fortes escaparem a penas pesadas. Estão basicamente a matar o futebol. Os pais agora querem que os filhos pratiquem desporto, não pelos valores ou para serem saudáveis mas para serem ricos."

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