"Agora que as viroses estão na ordem do dia, sinto a obrigação de falar sobre doenças na óptica do espectador de futebol. Passo a explicar:
Cada vez que vamos à bola, o jogo causa-nos várias condições clínicas. Por exemplo, quando chegamos às imediações do estádio já vamos a produzir altos níveis de testosterona, de rápida propagação entre seres do sexo masculino. Não se aproxime.
Nas roullotes há couratos e cerveja, e consequentemente, também há colesterol e refluxo gástrico.
Já dentro do estádio, as equipas entram em campo e o nervoso miudinho instala-se no corpo. À conta disto já não nos escapa uma artrose nas mãos daqui a uns anos.
Começa o jogo e um ataque perigoso da nossa equipa é logo um misto de condições: adrenalina, taquicardia, seios duros e sensíveis. Ok, isto não acomete a todos, mas o médico disse-me que às vezes acontece, seus preconceituosos.
Acrescem joanetes, fruto do pontapé na cadeira da frente.
Já o ataque perigoso da equipa adversária é um crescente estado clínico: respiração ofegante, narinas dilatadas, calafrios, náuseas, tremores, pânico.
Golo deles. Raiva, enxaquecas, dificuldades respiratórias, olhos aquosos. Não devia ter vindo. A nossa equipa não reage. Depressão. Para piorar as coisas temos um jogador expulso, mas lá no fundo acreditamos que ainda vamos dar a volta. Delírio.
Chega o intervalo, graças a Deus.
Da maneira que está o jogo ainda vou desenvolver uma amnésia e duas úlceras. O intervalo, curiosamente, tem o condão de causar incontinência a 50 mil pessoas em simultâneo. É espantoso.
Segunda parte.
Começa logo com o árbitro a não marcar um penálti a nosso favor. É um problema médico chamado visão turva, para o qual andam há anos a tentar descobrir uma vacina, infelizmente sem sucesso. Obviamente, este défice de visão arbitral despoleta movimentos bruscos e vernáculo nos espectadores, o que configura síndrome de tourette.
Entre os afectados há quem fique com a boca seca e laringite (que é o meu caso), e quem fique com excesso de saliva e mau hálito (que é o caso dos outros adeptos).
Conforme o resultado se vai mantendo inalterado, aumenta a ansiedade e a urticária. Em sentido contrário, algo diminui drasticamente em muitos homens que assistem ao jogo: o tamanho das unhas. (Onicofagia, o termo técnico.) O tempo passa, e a cada golo que a nossa equipa falha vamos perdendo cabelo. Entrei no estádio com uma cabeleira à David Hasselhoff e sinto que vou sair igual ao Gollum do Senhor dos Anéis.
Mas, quando achamos que está tudo perdido, do nada surge um centro para a área, remate e golo Gooooooooloooooooooo!!!!!! De repente desenvolvemos uma pulsação rápida, aumento da circulação sanguínea, transpiração abundante, o regresso do tourette, choro compulsivo, e, por fim, uma rotura de ligamentos e dois dentes partidos ao cairmos para a fila da frente.
E é então, agora que estava tudo a correr bem, que chega o final do jogo. Saio do estádio a coxear e com uma crise de ciática. Ao entrar no carro desfaleço devido à exaustão.
A paixão pelo futebol não tem cura, pois não?"
Muito bom carrega Benfica
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