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sábado, 31 de março de 2018

'Ícaro'

"Vi há dias o documentário Ìcaro, que há um mês venceu um óscar. É um trabalho histórico e foi previsto como experiência de dopagem na qual o realizador Bryan Fogel se assume como objecto da própria falsificação que o tornaria um ciclista mais forte - Fogel é um corredor amador (de nível alto) e comparou participações numa corrida francesa antes, ao natural, e depois, dopado. Em todo o caso, isso foi o menos, pois quis o acaso da investigação que Fogel conhecesse o químico russo Grigory Rodchenkov, criador/regulador de um esmerado sistema de dopagem alegadamente inserido em planos nacionais para tornar atletas  russos mais competitivos. Recomendo-se Ícaro, porque raramente um filme falhado, por se ter afastado da boa ideia inicial, terá sido tão comprovado, tão relevante e tão oportuno.
O resto sabe-se: Rodchenkov explanou a Fogel, entre a verdade e a ingenuidade, como tudo se accionava - desde as doses e substâncias ao contrabando de urina por aeroportos - e acabou a fugir para os EUA, onde agora benefício de programa de protecção de testemunhas.
A Rússia, pois, por estas e outras relações e relatórios (sobretudo o McLaren), foi corrida de provas olímpicas e queixa-se de ataques mentirosos, mas prepara-se para receber o Mundial. E quando se pensava que a ambiência não podia ser mais constrangedora, eis que o Reino Unido culpa os russos de assassínio de um ex-espião, promete ausência diplomática no Mundial e acusa Putin de ser um Hitler nos Jogos de 1936; consequentemente, a comunidade internacional desata e expulsar diplomatas russos. E vice-versa. Entretanto, Fogel e Rodchenkov já deram a entender, nos EUA, que têm informação que interessará à FIFA relacionada com este Mundial...
«Estamos a chegar a situação muito similar à da Guerra Fria», lamentou o secretário-geral da ONU, António Guterres. Caminhamos, no mínimo, para o Mundial frio. Dois mais frios de sempre."

Miguel Cardoso Pereira, in A Bola

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