Últimas indefectivações

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Questão de fé

"Em vésperas da visita do Papa Francisco a Portugal, ainda por cima tratando-se de um Papa que gosta de futebol (adepto do San Lorenzo), permitam-me dar um cunho mais religioso a este meu cantinho. Até porque, coincidência da coincidências, no mesmo dia em que o líder da Igreja Católica vai assinalar o centenário das aparições de Fátima, um outro milagre (segundo muitos apregoam) pode acontecer não muito longe, em Lisboa, no Estádio da Luz: o tetra do Benfica, com ritual de celebração agendado para o altar do Marquês de Pombal, perante milhares de fieis.
Há 100 anos, na Cova da Iria, ninguém queria acreditar no que estava a ver, e agora, entre sportinguistas e portistas, também não. Só falta canonizarem Rui Vitória, pensam, entre mais uma reza e uma velhinha pelo V. Guimarães (e outra pelo Boavista, já agora). Mas talvez continue a ser mais fácil meter a culpa nos árbitros do que invocar uma qualquer protecção divina, porque convenhamos que na relação com os céus a época por cá não foi fácil: Deus desceu de divisão, Jesus está a ser crucificado, Espírito Santo tem o lugar em risco. Até o Papa do futebol português (sim, também já tivemos um) caiu em desgraça.
O Governo lava as mãos como Pôncio Pilatos, valendo, por enquanto, a boa vontade do Cardeal Gomes e do Bispo Proença, com medidas e intenções que anunciam um novo advento, como a bênção do videoárbitro ou a nova bíblia de regulamentos, mas que certamente não acabarão com as aulas de catequese por e-mail, onde se ensinam os mandamentos, com os acólitos da comunicação, com as homilias diárias e as sagradas escrituras de Facebook (só para beatos), com os coros mal comportados, com os comentadores evangelizadores, com os missionários dos blogues e afins. 
Ninguém consegue ter mão nesta paróquia que vive em permanente pecado. Podem chamar-me profeta da desgraça, mas para o ano a missa vai ser igual. Continuaremos à beira do apocalipse, com o demónio sempre à espreita. Mas isso já são contas de outro rosário. Haja fé."

Gonçalo Guimarães, in A Bola

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