Últimas indefectivações

quinta-feira, 9 de março de 2017

Jonas, o canhão e as moscas

"Acertar em moscas a tiros de canhão nunca foi uma estratégia especialmente inteligente. A paisagem morre e o bicho escapa. Vivinho da silva, inquebrável, qual Henri Charrière. Papillon – o prisioneiro –, se preferirem.
Vem esta ideia a propósito de uma ideia muito minha: Jonas é o melhor futebolista que passou pela liga portuguesa nas últimas épocas.
Jonas, pois então. Juntem-se a mim nesta minha espreguiçadeira da contemplação. Confortáveis? Agora cheguem-se um bocado para lá. Já viram a elegância do senhor?
Já viram a frieza com que executa, a serenidade no momento de decidir? Tudo sem aparente esforço, apenas consequência natural de quem nasceu para isto. Para jogar futebol.
Neste caso, a estatística – 100 jogos, 76 golos – é um eco lógico da realidade, daquilo que os meus olhos analisam e os meus dedos teclam. A renovação do brasileiro com o Benfica é, pois, um prémio para os que não consomem a bola indígena na sofreguidão do fanatismo.
«Oh pá, deixem-se de m….. Um canhão nunca acertou numa mosca! Façam é golos.»
A frase tem direitos de autor. E não são meus. Escutei-a, em pânico, no balneário de um jogo meu no escalão de juniores. Sub19, dizem agora, todos pomposos.
A metáfora explica-se em poucas sílabas: de nada serve bombardear a baliza contrária se a redondinha não entrar onde deve. O mister Luís não tinha nenhum Jonas, o homem dos caminhos certos, e desesperava-se com isso. E desesperava-nos a nós, pobres aspirantes a futebolistas.
As lesões de Jonas nos últimos meses parecem-me uma selva vietnamita pejada de napalm. Vemos as chamas, a destruição, as explosões. Presumimos a inexistência de vida humana. De sobrevivência.
E, no entanto, debaixo da cortina de fogo, provavelmente com uma fita à Rambo na cabeça – prefiro Charlie Sheen em Platoon – lá surge o pacato avançado benfiquista, incólume ao apocalipse e a pedir licença. De Pistola na mão (as Chuteiras Pretas ficavam-lhe tão bem) e ar angelical, um assassino de face cândida.
Em Jonas vislumbro um derradeiro assomo de amor pelo jogo. Uma condição em vias de extinção. Culpa dos serviçais assumidos ou dissimulados dos três grandes e das alucinações que reverenciam. Tudo nos altares que lhes são conferidos nos media.
Só por negligência, dolo quiçá, se pode escrever/dizer/pensar mal do internacional brasileiro. Que trovejem os canhões, Jonas aguenta. Ai aguenta, aguenta."

1 comentário:

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