"Desconfiança à chegada admiração à partida. Bastaram 90 minutos para os escoceses de renderem à grandiosidade do Benfica.
Numa noite de final de Setembro, o Benfica de Béla Guttmann aterra na fria e chuvosa Escócia para o jogo da pré-eliminatória da Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1960/61, frente ao campeão nacional Heart of Midlothian. 'Benfica? O que era? De onde vinha e o que valia?', questionam os escoceses quando olham para 'um Benfica ainda sem vedetas'. Coluna, Santana e Ângelo saem do avião, encolhem-se e apertam os casacos quando sentem o frio glacial do Outono escocês. Os funcionários da alfândega, de fatos leves, riem-se. Benfica? Quem são os jogadores mais importantes, qual a sua história e que esperanças têm para esta competição? Torres sai do avião. Tão alto e magro! 'Poderia vir a ser no futebol alguma coisa de válido?'. Ainda a desconfiança. Mas o mister esclarece os jornalistas: 'Dentro de dois anos será famoso em toda a Europa'.
A equipa estava nervosa. Faltava-lhes experiência europeia e o sorteio não foi brando com os 'encarnados'. Os escoceses eram robustos e o seu futebol duro, diferente daquele praticado pelos portugueses. Mas eis que chega a hora do jogo. Portugueses nervoso, escoceses confiantes. O mais provável? Uma derrota para a equipa de Lisboa. Guttmann não desmoralizou e pediu aos jogadores para apostarem num ataque rápido e incisivo. Noventa minutos depois, a desconfiança virou surpresa. O Benfica venceu por 2-1 e, no final, foi aplaudido pelos escoceses numa enorme manifestação de fair-play. Horas depois os jornalistas locais ainda se confessavam impressionados com o futebol dos portugueses. Benfica? Jamais esqueceriam aquele nome.
No dia seguinte abandonaram Edimburgo e, no aeroporto, os mesmos que subestimaram o Benfica à chegada olhavam-no agora com admiração. O impacto foi tal que na 2.ª mão, na Luz, o Real Madrid enviou a Lisboa um representante para testemunhar o futebol e os futebolistas que surpreenderam a Europa e que, mais uma vez, repetiram o feito ao baterem o Hearts por 3-0. O resto, como se sabe, é história. Sete meses depois, em Berna, frente ao Barcelona, o Benfica vencia a sua primeira Taça dos Clubes Campeões Europeus e ficava, para sempre, na memória de todos como um dos grandes da Europa.
Pode saber mais sobre o percurso do Benfica nesta competição na área 12 - Honrar o país, no Museu Benfica - Cosme Damião."
Marisa Furtado, in O Benfica
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