"O processo revolucionário em curso operado por Vieira não sei quando acabará, mas acredito que vai passar por uma final da Champions e do que dela resultar...
Há uma semana, dei opinião sobre este Benfica que se prepara para continuar vitorioso na temporada desportiva que teve a sua cerimónia de abertura na noite do último domingo, em Aveiro. Escrevi sobre o que penso, e houve quem tivesse reagido, prenúncio do excessivo calor que deverá caracterizar o campeonato que vai jogar-se fora das quatro linhas, à semelhança do que passou. Destaquei o que considero serem os vários ses, ou dúvidas à espera de esclarecimentos, ou medidas que reclamam decisões. Cenário normal em cada mudança de época, quando há necessidade de integrar os que chegam, substituir os que partem e, no fundamental, descobrir mais e melhores de soluções para o grupo.
Coisas simples, cuja pertinência o jogo com o Braga confirmou, ao mostrar, por exemplo, que Nélson Semedo, na direita, está emprenhadíssimo em recuperar o lugar e Grimaldo é o presente/futuro, na lateral esquerda. Além de se manter a interrogação sobre a dupla titular de centrais, porque a concorrência é forte e a qualidade é muita. São as chamadas boas dores de cabeça que qualquer treinador gostaria de ter. Rui Vitória, ao ser olhado como um felizardo, vê a sua responsabilidade aumentada pelo facto de não estar limitado nas escolhas. O que só valoriza a equipa.
Não sou particular admirador do esquema táctico que o Benfica utilizou na época transacta, de aí a minha curiosidade sobre o que nos reserva a que se iniciou anteontem. Expliquem-me os misters com quem falo que teve de ser assim antes, ou tem de ser assim agora, por força das circunstâncias, emergindo essas circunstâncias das características de peças importantes na estrutura, as quais rendem menos dentro de determinado esquema e ficam mais confortáveis se for aplicado outro. É tarefa que cabe ao treinador, complexa e ingrata, por estar prisioneira dos resultados, desenhar o modelo que, segundo ele, lhe indica a direcção do sucesso. Porque o processo revolucionário em curso operado por Vieira não sei como e quando acabará, mas acredito que vai passar por uma final da Liga dos Campeões e do que dela resultar...
Como não possuo conhecimentos suficientemente profundos para ler a sina dos candidatos a estrelas da bola, limito-me a reflectir sobre o que vejo, ou a dar palpites envergonhados e de nulo significado, como qualquer adepto. No caso, espero para ver como irá funcionar o meio-campo dos encarnados, sendo certo que, depois de Peseiro ter corrigido a sua organização, reposicionando os meios de combate ao jogo exterior do Benfica, conseguiu o controlo no eixo central, com Rui Vitória a demorar uma eternidade a responder. Pareceu-me a mim, pareceu a Vítor Serpa, que o referiu na sua crónica e pareceu também a Henrique Calisto na peça que assinou em A BOLA: «Nesse período (segunda parte), o Benfica sentiu dificuldades na construção e posse de bola, precisam de mais tempo e trabalho, em particular no corredor central».
Com Fejsa, mais disponível do ponto de vista físico, a funcionar como guarda costas eficiente e dedicado do 'selvagem' Renato Sanches, Rui Vitória descobriu a chave que lhe permitiu abrir a porta do título 35, mas... pés na terra, contenção na euforia e sabedoria na avaliação dos jovens, a caminho do tetra, depois da Supertaça. É este o ensinamento que Luís Filipe Vieira não se tem cansado de espalhar por entre a nação benfiquista: não há triunfos por antecipação. O plantel de hoje é já fruto da sua política de investmento nas áreas de formação, no Seixal e em outros mercados, mas encontrar um Renato todos os anos, talvez só ao alcance dos deuses...
José Peseiro é bom treinador e tem de se convencer que o é. Não precisa, por isso, se de justificar/lamentar em cada derrota que lhe bate à porta, como se fosse o causador de todos os males. Dizer que quem não viu o jogo ficou com ideia errada do que se passou em Aveiro é normal, e faz sentido. Dizer que é muito difícil aceitar o resultado, igualmente. Dizer que a derrota do Braga foi tremendamente injusta fere os limites do razoável. Quem marca três golos e não sofre nenhum não merece ganhar? Ou séra que o Benfica terá alguma inabilidade de Rafa Silva para introduzir a bola na rede de Júlio César? Jonas é diferente: se não marca à primeira, marca à segunda.
O problema de Peseiro não é de falta de competência. É de falta de jeito para promover a sua imagem e desfazer de uma vez por todas a ideia do pé frio ou do quase."
Fernando Guerra, in A Bola
Sem comentários:
Enviar um comentário
A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!