"1. Com as eleições de ontem inicia-se um novo mandato na Federação Portuguesa de Futebol. É o tempo da consolidação da obra - e digo obra em pleno sentido - do Doutor Fernando Gomes e da sua equipa directiva. Com nomes relevantes, agora, como suplentes da Direcção. É o momento, igualmente, de afirmação de novas lideranças no Conselho de Arbitragem e no Conselho de Disciplina, os dois órgãos sujeitos a maior escrutínio e, logo, a maior crítica na estrutura orgânica federativa. As principais linhas estratégicas deste mandato foram, e bem, a tempo, delimitadas. No imediato os novos órgãos terão três matérias que prenderão, em diferentes níveis, a agenda mediático-desportiva: a denominada semanticamente «questão Gil Vicente» e a consolidação, ou não, da decisão judicial que fará regressar o clube à primeira Liga; a problemática dos convocados na modalidade futebol para a comitiva portuguesa aos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro e, por último, o teste, entre nós, do vídeo-árbitro. Com a consciência que nestas, como em outras matérias, se conjugarão, sempre, o bom senso com a boa vontade.
2. No próximo fim de semana arranca, plenamente, o Europeu de futebol em França. Estamos, por ora, na fase dos jogos de preparação. Renhidos alguns. Com instantes imprudentes outros. E, entre nós, aguardando a chegada, hoje mesmo, do capitão Cristiano Ronaldo e do Pepe. Um Europeu numa França ainda com muita água em diferentes locais e com inúmeros problemas e conflitos. Mas este é um Europeu que envolve 24 selecções, ou seja, onde estão representadas quase que metade dos Estados - com algumas nações desportivas! - desta Europa cada vez mais dividida e à espera dos resultados do referendo inglês referente à sua permanência - ou não - no espaço da União Europeia. São 24 selecções e, no conjunto, 552 jogadores. E com algumas singularidades. Toda a selecção islandesa - um dos nossos adversários na fase de grupos - joga em clubes estrangeiros. Diria é estrangeirada! E, pelo contrário, toda a selecção inglesa joga em clubes ingleses. É uma selecção interna. Diria, em certo sentido, local! Quase toda a selecção austríaca - todos menos um, o guarda redes Robert Almer do Áustria de Viena - também joga no estrangeiro e quase toda a selecção russa - menos, agora, o diríamos alemão do Schalke, Roman Neustadter - joga em clubes locais, ou seja russos. Também todos os jogadores da República da Irlanda e da Irlanda do Norte actuam fora dos respectivos campeonatos. Mas a maioria em campeonatos próximos. Serão, assim, estrangeiros próximos! O que significa que a especificidade britânica tem três selecções em França: a Inglaterra, o País de Gales e a Irlanda do Norte. Só falta, em rigor, a Escócia! E a maior parte das selecções apuradas para este Europeu integra, em maioria - maioria em vinte e três! - jogadores a actuar fora de clubes participantes na respectiva liga nacional. Na nossa quinze jogadores actuam em clubes não portugueses. E a nossa Liga cede a este Europeu 10 jogadores. Casillas por Espanha, Lindelof pela Suécia e os restantes oito originários de quatro clubes portugueses: Sporting, Benfica, Porto e Braga. Na selecção espanhola já são só nove estrangeiros e sete deles integram a denominada armada inglesa. Do David de Gea ao David Silva. E lá encontramos o alemão Thiago Alcântara e o italiano Morata. Como, agora, na selecção italiana - sempre profundamente cínica na sua arte do jogo - são cinco estrangeiros repartidos entre a Liga inglesa (3) e a francesa (2). Como, ainda, a turca com sete jogadores fora da Turquia repartidos estes entre a Liga alemã (3) e, também, e já com envolvimento na crescentemente relevante Liga chinesa. Com o Burak Yilmaz. Verificamos, ainda, que na forte selecção anfitriã apenas cinco jogadores actuam na liga francesa e nos estádios que vão acolher este Europeu e que a grande maioria dos jogadores aderiu à milionária liga da Europa, a Liga inglesa. Como se o túnel da Mancha também servisse para fazer uma ligação mais rápida entre estes dois rivais, a Inglaterra e a França! Constatamos, assim, que as ligas mais ricas são dominadas por jogadores internos. As selecções inesperadas - basta recordarmos a não presença holandesa! - integram só estrangeirados. E as ligas intermédias, como a portuguesa, combinam o elemento interno com o externo. A questão é saber, em definitivo lá para o final do mês de Agosto, se alguns dos nomes que estavam no lado interno não passarão, fruto das exibições e (ou) da fragilidade de tesouraria de clubes titulares dos seus direitos desportivos, para o lado externo. Ou seja se não foram, para alegria de uns e angústia para outros, objecto de emblemáticas transferências. Em que só a título totalmente excepcional o valor da comissão seja superior ao valor anunciado da transferência...
3. Convém acompanhar e ler as alterações relevantes às regras do futebol. O poder do futebol nestas matérias, o International Board, desencadeou uma pequena revolução. A diferentes níveis. Do terreno do jogo aos poderes dos árbitros. As novas regras aí estão. Tal como a título experimental o vídeo-árbitro. Mas, apesar delas, continuará a haver paixão e discussão. Com elas e com ele não deixará de haver debate e controvérsias. Com elas e com ele não baixará a febre do futebol. Em que cada um é treinador e árbitro. Na bancada e no sofá. Sozinho ou em família. Ou em grupo. E sempre com diferentes tácticas e com as regras sempre vistas consoante as cores de cada um. Ou, cada vez mais, de cada uma! O que faz do futebol um grande espectáculo e quase que uma religião! Com crentes e pecadores.
4. Acredito em Fernando Santos. Nas suas escolhas. E, aqui, importa acreditar. Acreditar que é possível sonhar!"
Fernando Seara, in A Bola
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