"O título desta crónica bem poderia sugerir um dos mais conhecidos romances de Fernando Namora ou do filme homónimo dos anos sessenta de António de Macedo. No entanto, é das tardes de domingo de futebol que escrevo.
No domingo à tarde, a Luz tem mais luz. No domingo à tarde, o vermelho é mais encarnado. No domingo à tarde, a águia não fica encadeada pelas luzes de não ser domingo à tarde. No domingo à tarde, o cheiro da relva é mais vegetal. No domingo à tarde, há lá mais famílias e gerações. No domingo à tarde, as papoilas são mais saltitantes. No domingo à tarde, os rostos são mais abertos. No domingo à tarde, o fim-de-semana ainda o é e tem hífens. No domingo à tarde, ainda não mergulhámos na antecâmara de segunda-feira. No domingo à tarde, não há a medida do cronómetro, ainda que no relvado e cronómetro conte. No domingo à tarde, há sol e há sombra lá em baixo para os artistas escolherem. No domingo à tarde, a chuva parece mais acolhedora e o vento mais harmonioso, ainda que iguais aos da noite. No domingo à tarde, o suor do esforço dos atletas pressente-se mais. No domingo à tarde, joga-se a bola como que fosse mais ao ar livre. No domingo à tarde, a 'chama imensa que nos conquista' é mais intensa. No domingo à tarde, o futebol é competição, mas também desporto. No domingo à tarde, vemos não apenas olhando e escutamos, não apenas ouvindo. No domingo à tarde, há ainda domingo depois. No domingo à tarde, o jantar é a horas.
Por isso tudo, gosto de ver o meu Benfica jogar na Luz no domingo à tarde. O futebol é mais conforme a sua natureza e o Benfica ainda acontece mais em mim."
Bagão Félix, in A Bola
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