"Muito provavelmente, Béla Guttmann nunca disse o que dizem que disse a propósito do sucesso do Benfica na Europa. A maldição do mago magiar não está registada sob forma de entrevista e o que terá mesmo sucedido não terá passado de um desabafo do treinador bicampeão europeu pelo Benfica com o seu adjunto Fernando Caiado a propósito da profusão de automóveis entre os jogadores encarnados que, à chegada de Guttmann ao Benfica era de apenas três. Referindo-se a um possível aburguesamento dos jogadores, Guttmann terá dito que «assim nem daqui a trinta anos ganham nada». O que se passou a seguir explica-se com a expressão 'quem conta um conto, acrescenta um ponto', a que se juntou, nos seis anos a seguir à conquista do bicampeonato europeu, a derrota em três finais (1963, 1965, 1968). A lenda foi crescendo, alimentou-se dos insucessos de 1983, 1988 e 1990 e explodiu com as derrotas do Benfica em Amesterdão e Turim, até atingir proporções planetárias.
Ontem, a fazer a revista da imprensa internacional era encontrar, em cada nove de dez casos, referências à maldição de Guttmann, transformada na mais desejada das lendas do futebol dos dias de hoje. Para o Benfica, a mediatização deste fait-divers tem um lado positivo porque permite que ninguém se esqueça que o Benfica já esteve em dez finais europeias e é um dos mais importantes e competitivos clubes do Velho Continente.
Chegará o dia em que o emblema da Luz vai ganhar a sua final e enterrar esta lenda. Para já, a maldição de Béla Guttmann vai servindo para explicar castigos, lesões, erros dos árbitros, substituições mal conseguidas e falhanços de baliza aberta. Sempre serve para alguma coisa, afinal..."
José Manuel Delgado, in A Bola
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