"Vencedores hoje, derrotados amanhã; um dia, muito convencidos de nós mesmos, no dia seguinte: o luto é um sentimento que, tarde ou cedo, todos temos de saber carregar um dia. (Contando que, pelo menos, seja com a mesma dignidade com que celebramos a alegria.)
Recomenda a prudência que, sobretudo nos momentos mais felizes, nos quais a sobranceria quanto a capacidades próprias nos chega a transportar até à dimensão da divina omnipotência, bom seria que nunca deixássemos de manter devidamente arrumado numa das gavetas do cérebro, algum capital de sensatez - essa medida imensurável, embora precisa e determinante - que afinal, nos torna mais seguros, ante as imprevisibilidades do destino.
Dizem os cépticos que, mesmo na aparente circunstância de uma 'felicidade plena', a mera alegria das curtas vitórias - tantas vezes confundida pelos palermas, com a arrogância, a soberba vaidade, ou um falso sentido da sua própria proporção - é, certamente, um bem precário que não augura nada de bom...
Quando menos se espera, saem-nos pela frente outros difíceis e decisivos desafios.
Desses, em que todas as nossas verdadeiras capacidades e todos os nossos autênticos limites, têm então, de ser postos à prova. Para os ganharmos. E não para nos defendermos apenas a nós próprios.
Em todo o caso, um qualquer, pode optar por viver sem a consciência presente do que, um dia, o luto lhe possa inesperadamente bater à porta.
Num ambiente de competição, podemos até imaginar-nos mais fortes ou mesmo imunes, superiores a todo o sentimento de perda, de vergonha ou dor. Mas um dia, na enganadora arrogância de meras convicções não suficientemente sustentadas, sem que o esperemos, o luto abate-se sobre nós. Implacavelmente.
Hoje incrédulos, chorosos. Até de joelhos no chão e sem pudor. No dia seguinte, porventura ganhadores e campeões. Mas para isso é muito importante que se saiba curtir o luto. O nojo. A tristeza sincera. O que não são sentimentos vãos, apenas mais ou menos vivenciados.
É que o verdadeiro luto cavado é muito útil.
Mas só servirá alguma coisa, se resultar numa sincera reflexão interior sobre o que passámos, sobre o que vivemos. Como vivemos o tempo que passou, ou de que modo passámos o tempo. Umas vezes sozinhos e muitas vezes com os outros.
E nós nunca estamos sós nesta labuta. Quantas vezes não dependemos dos outros que nos cercam, dos outros que dependem de nós, dos outros que correm por nós, dos outros que nos garantem o pão (e as extravagâncias) do dia a dia?
Desse luto obrigatório que nos chama à humilde reflexão interior, até à glória desejada, só vai um passo. Mas que ninguém tenha ilusões: trata-se de um pequeno passo de gigante que só homens grandes, um dia, podem dar."
José Nuno Martins, in O Benfica
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