"No editorial da última edição da revista Dragões, Pinto da Costa criticou a escolha de João Ferreira para o Benfica-FC Porto, citando, em defesa da sua tese, uma conversa entre Valentim Loureiro e Luís Filipe Vieira, constante das escutas do Apito Dourado.
Sim. Depois de esgrimir argumentos contra a divulgação das escutas e sua utilização pelos tribunais; depois de ter accionado judicialmente quem citou as escutas ou meramente anunciou onde podiam ser ouvidas; depois de se ter vitimizado, alegando danos de imagem; depois de um ilustre portista, Rui Moreira, ter abandonado em directo um programa televisivo por se recusar a debater o teor das escutas; eis que Pinto da Costa sai a terreiro e trata de citar as famosas escutas.
É um daqueles momentos que marcam um antes e um depois; que retira argumentos a todos os pintistas que se refugiavam no sacrilégio que era comentar o que praticamente toda a gente ouviu ou leu (na net são mais de nove milhões os clics nas escutas...); e que abre, enfim, novas pistas de debate a propósito do que a Justiça portuguesa entendeu não dever ser tido em linha de conta.
E se há coisa que os portugueses não conseguem entender são os expedientes da Justiça, a ideia de que os grandes, das finanças, da política e também do desporto estão sempre acima dos comuns mortais e que nada lhes acontece; os alçapões que os causídicos mais hábeis conseguem explorar; as voltas e reviravoltas que os casos dão, aqueles que não saem do mesmo sítio e ainda os que acabam por prescrever.
Mas regressemos ao tema desta coluna: Pinto da Costa já cita as escutas do Apito Dourado. E eu a pensar que, em semana de resignação do Papa, nada mais me poderia surpreender..."
José Manuel Delgado, in A Bola
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