"A equipa jogou como um colectivo, nem sempre espectacular, mas sempre seguro. E a alma benfiquista voltou a rejubilar
1. E a alma benfiquista voltou a rejubilar! Uma corrente forte de emoções e solidariedade perpassou as repletas bancadas do Estádio da Luz naquele fim de dia de quarta-feira passada. O sol pôs-se e houve mesmo Luz. O resultado poderia - e deveria - ter sido outro. A vitória não foi um sonho, nem uma quimera gerada nas almas inflamadas dos adeptos benfiquistas. Esteve nos pés de Nolito, de Aimar, de Cardozo. Foi, como se costumava dizer, «por um triz». Esteve quase. Um quase suado, combatido. Um quase que deveria ter deixado de o ser. Se o futebol tivesse justiça, lógica, mérito e racionalidade. Um quase devido, essencialmente, à excepcional actuação do guarda-redes do Manchester.
2. Sim, porque importa recordá-lo, essa noite o Benfica defrontou uma das melhores equipas do Mundo e que atravessa um dos picos de forma mais impressionantes, Vejam-se os resultados pretéritos na Liga Inglesa. Fê-lo cara a cara, disputado um jogo limpo, bem estudado e preparado, sem invenções tácticas, apostando num meio campo forte e coeso, numa defesa coreácea e num contra ataque rápido. Processos simples. Cobertura permanente de Rooney (nem se viu), cedência de iniciativa de jogo ao Manchester sem perder o domínio territorial. Assim foi. E foi bem. A equipa jogou como um colectivo, nem sempre espectacular, mas sempre seguro. Não fora um início um pouco tremido de Emerson frente a um fantástico Valência e aquela pequena (e fatal) desconcentração na cobertura a Giggs e tudo teria sido irrepreensível.
3. Dos jogadores, Luisão assombra pelo seu poder, pela sua competência e pela sua capacidade de comando. Hoje pode dizer-se sem discussão que Luisão é um herdeiro digno das camisolas dos grandes Humberto, Ricardo Gomes e Mozer. Parece ter ganho confiança e segurança com a companhia de Garay. Impecável no domínio dos espaços, implacável nas coberturas , cuidadoso nas faltas, prudente nas saídas, milimétrico nos passes longos. Garay transmite tranquilidade e concentração. Potencia e estimula a defesa. É um jogador de escola, o defesa que intimida e não se intimida. Grande reforço. Depois, Emerson que, quando acertou o passo com Valência, confirmou o seu trajecto ascendente na equipa, ganhando confiança e conquistando merecidamente a titularidade. Não faz esquecer o inesquecível Fábio Coentrão. Mas cumpre a contento e tem muita margem de evolução. De Maxi Pereira que se pode dizer? É uma verdadeira locomotiva. Não pára. Faz quilómetros a velocidades estonteantes. Não aceita perder uma jogada. Na defesa, como no ataque, é uma força da natureza e portador de uma alma de verdadeira águia. É, porventura, o jogador que melhor interpreta a mística do Benfica. Lutador, trabalhador, humilde, brilhante, vencedor. No miolo, Rubem Amorim está em recuperação mas já deixa a sua marca, jogando com inteligência e uma notável leitura de jogo. Javi Garcia fez, uma vez mais, uma grande noite. Uma muralha e um construtor de jogo. Quando o seu entendimento com Witsel se aperfeiçoar aquele meio campo será (e já o é) um caso muito sério. Aimar é o jogador com o futebol mais perfumado que percorre os relvados nacionais. A sua elegância, a sua capacidade de luta e, sobretudo, o génio dos sobredotados proporciona-nos momentos de deleite puro. E mais. Não assume o estatuto de vedeta. Vai a todas, dobra os colegas, defende como ataca. É o paradigma de um grande jogador que é também o cimento da equipa. Depois, lá na frente um Gaitán de génio e um Cardozo que demonstrou a injustiça das críticas que tantas vezes lhe são feitas. Não só pelo seu golo fantástico. Mas principalmente pela forma como disputou palmo a palmo o espaço com os defesas britânicos. Jogo brilhante de um jogador que é hoje um esteio do Benfica e que é muito prejudicado por algumas opções tácticas em benefício da equipa. Mas que dá tudo o que tem. E tem um sentido posicional invulgar, um pontapé imparável e uma vontade indomável. Regressando às comparações, lembra José Torres, até naquele seu ar desajeitado e naquela forma de aparecer sem ser visto frente à baliza. É o nosso goleador. E esta temporada promete. Tantos são os já concretizados. Nolito, como Matic, demonstraram a riqueza de soluções que o Benfica dispõe. E deram um suplemento de força que permitiu uns últimos 20 minutos de absoluto domínio.
4. O Benfica fez o que lhe competia. Esteve à altura da sua História. Prestigiou-se e prestigiou o futebol português. Não ganhou, mas podia e devia ter ganho. Não deu para rir. Mas deu para sorrir.
5. O futebol português padece de um mal endémico que importa erradicar. Alguns comentadores de grande prestígio - e que me merecem todo o respeito - não conseguem dissimular a dificuldade que sempre sentiram em lidar com os afectos clubísticos. Houve quem referisse que o Benfica jogou com a 2ª equipa do Manchester. Dislate absoluto. Basta ver a sua composição. Aliás, o curioso é que quando alguns costumeiros titulares entraram em jogo foi, precisamente, quando o Benfica o dominou e esteve à beira de o vencer. Será que alguém pode pensar que Alex Ferguson partiria para um jogo da Liga dos Campeões sem os seus jogadores em melhor forma e que lhe oferecessem maior segurança? Esse raciocínio ofende o palmarés e a honra do treinador inglês e é, pura e simplesmente absurdo.
..."
Fernando Seara, in A Bola
1. E a alma benfiquista voltou a rejubilar! Uma corrente forte de emoções e solidariedade perpassou as repletas bancadas do Estádio da Luz naquele fim de dia de quarta-feira passada. O sol pôs-se e houve mesmo Luz. O resultado poderia - e deveria - ter sido outro. A vitória não foi um sonho, nem uma quimera gerada nas almas inflamadas dos adeptos benfiquistas. Esteve nos pés de Nolito, de Aimar, de Cardozo. Foi, como se costumava dizer, «por um triz». Esteve quase. Um quase suado, combatido. Um quase que deveria ter deixado de o ser. Se o futebol tivesse justiça, lógica, mérito e racionalidade. Um quase devido, essencialmente, à excepcional actuação do guarda-redes do Manchester.
2. Sim, porque importa recordá-lo, essa noite o Benfica defrontou uma das melhores equipas do Mundo e que atravessa um dos picos de forma mais impressionantes, Vejam-se os resultados pretéritos na Liga Inglesa. Fê-lo cara a cara, disputado um jogo limpo, bem estudado e preparado, sem invenções tácticas, apostando num meio campo forte e coeso, numa defesa coreácea e num contra ataque rápido. Processos simples. Cobertura permanente de Rooney (nem se viu), cedência de iniciativa de jogo ao Manchester sem perder o domínio territorial. Assim foi. E foi bem. A equipa jogou como um colectivo, nem sempre espectacular, mas sempre seguro. Não fora um início um pouco tremido de Emerson frente a um fantástico Valência e aquela pequena (e fatal) desconcentração na cobertura a Giggs e tudo teria sido irrepreensível.
3. Dos jogadores, Luisão assombra pelo seu poder, pela sua competência e pela sua capacidade de comando. Hoje pode dizer-se sem discussão que Luisão é um herdeiro digno das camisolas dos grandes Humberto, Ricardo Gomes e Mozer. Parece ter ganho confiança e segurança com a companhia de Garay. Impecável no domínio dos espaços, implacável nas coberturas , cuidadoso nas faltas, prudente nas saídas, milimétrico nos passes longos. Garay transmite tranquilidade e concentração. Potencia e estimula a defesa. É um jogador de escola, o defesa que intimida e não se intimida. Grande reforço. Depois, Emerson que, quando acertou o passo com Valência, confirmou o seu trajecto ascendente na equipa, ganhando confiança e conquistando merecidamente a titularidade. Não faz esquecer o inesquecível Fábio Coentrão. Mas cumpre a contento e tem muita margem de evolução. De Maxi Pereira que se pode dizer? É uma verdadeira locomotiva. Não pára. Faz quilómetros a velocidades estonteantes. Não aceita perder uma jogada. Na defesa, como no ataque, é uma força da natureza e portador de uma alma de verdadeira águia. É, porventura, o jogador que melhor interpreta a mística do Benfica. Lutador, trabalhador, humilde, brilhante, vencedor. No miolo, Rubem Amorim está em recuperação mas já deixa a sua marca, jogando com inteligência e uma notável leitura de jogo. Javi Garcia fez, uma vez mais, uma grande noite. Uma muralha e um construtor de jogo. Quando o seu entendimento com Witsel se aperfeiçoar aquele meio campo será (e já o é) um caso muito sério. Aimar é o jogador com o futebol mais perfumado que percorre os relvados nacionais. A sua elegância, a sua capacidade de luta e, sobretudo, o génio dos sobredotados proporciona-nos momentos de deleite puro. E mais. Não assume o estatuto de vedeta. Vai a todas, dobra os colegas, defende como ataca. É o paradigma de um grande jogador que é também o cimento da equipa. Depois, lá na frente um Gaitán de génio e um Cardozo que demonstrou a injustiça das críticas que tantas vezes lhe são feitas. Não só pelo seu golo fantástico. Mas principalmente pela forma como disputou palmo a palmo o espaço com os defesas britânicos. Jogo brilhante de um jogador que é hoje um esteio do Benfica e que é muito prejudicado por algumas opções tácticas em benefício da equipa. Mas que dá tudo o que tem. E tem um sentido posicional invulgar, um pontapé imparável e uma vontade indomável. Regressando às comparações, lembra José Torres, até naquele seu ar desajeitado e naquela forma de aparecer sem ser visto frente à baliza. É o nosso goleador. E esta temporada promete. Tantos são os já concretizados. Nolito, como Matic, demonstraram a riqueza de soluções que o Benfica dispõe. E deram um suplemento de força que permitiu uns últimos 20 minutos de absoluto domínio.
4. O Benfica fez o que lhe competia. Esteve à altura da sua História. Prestigiou-se e prestigiou o futebol português. Não ganhou, mas podia e devia ter ganho. Não deu para rir. Mas deu para sorrir.
5. O futebol português padece de um mal endémico que importa erradicar. Alguns comentadores de grande prestígio - e que me merecem todo o respeito - não conseguem dissimular a dificuldade que sempre sentiram em lidar com os afectos clubísticos. Houve quem referisse que o Benfica jogou com a 2ª equipa do Manchester. Dislate absoluto. Basta ver a sua composição. Aliás, o curioso é que quando alguns costumeiros titulares entraram em jogo foi, precisamente, quando o Benfica o dominou e esteve à beira de o vencer. Será que alguém pode pensar que Alex Ferguson partiria para um jogo da Liga dos Campeões sem os seus jogadores em melhor forma e que lhe oferecessem maior segurança? Esse raciocínio ofende o palmarés e a honra do treinador inglês e é, pura e simplesmente absurdo.
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Fernando Seara, in A Bola
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