"Quando, em setembro, se realizar o Benfica-Rio Ave, da ronda inicial da Liga, os telespectadores portugueses que seguem o futebol nacional terão assistido a jogos em três estações distintas: no operador prioritário (Sport TV), na TVI (a receção do Moreirense ao Alverca) e na BTV (o último jogo, na Luz, entre encarnados e vila-condenses.
Portugal será, na Europa civilizada do futebol, o único país em que tal sucede, justamente por força, numa primeira e muito longa fase, do monopólio operacional da estação desportiva codificada no cabo e, depois, de um adiamento sucessivo das dinâmicas e da convergência necessária ao estabelecimento de um pleno entendimento sobre a centralização de direitos televisivos.
Se formos um pouco mais longe, analisando, por exemplo, as audiências médias do encontro em Moreira de Cónegos, que marcou a estreia da estação de televisão de Queluz de Baixo em transmissões em sinal aberto de partidas do principal campeonato português de futebol, verificamos que dificilmente elas terão atingido plataformas de interesse e minimamente justificativas para os patrocinadores que compraram espaços publicitários antes, durante, no intervalo e imediatamente após o encontro.
Sejamos claros: Moreirense e Alverca, de per si, não são atrativos ou catalizadores de audiências de referência, e a própria liga portuguesa, se bem percebermos, está muito longe de ser um produto competitivo, à exceção de cinco ou seis emblemas que garantem, à partida, shares de respeito.
O negócio da TVI com o emblema de Moreira de Cónegos insere-se numa estratégia percetível de projeção do clube do concelho de Guimarães e num primeiro round do assalto da TVI ao futebol como conteúdos diferenciador e potencialmente gerador de receitas e audiências. Parece-me muito complicado que tal possa resultar, pelo menos numa primeira fase do plano.
E o problema é transversal, porque é da qualidade média dos espetáculos, dos estádios, dos emblemas da liga portuguesa. Foi (a centralização de direitos televisivos), um dos grandes objetivos não concretizados pelos sucessivos mandatos de Pedro Proença à frente da Liga Portugal. Mas ficou trabalho de sapa, de bastidores, de estudo, de qualificação do que poderia e deveria ser feito nos estádios seguintes de desenvolvimento do projeto, de tal forma que, onze meses antes do exigido pela tutela, o projeto de centralização de direitos televisivos foi apresentado ao Governo.
Este passo tinha de ser dado, e tinha de ser dado, especialmente, neste momento. O momento em que as eleições no Benfica ameaçam aglutinar o tema como fraturante e estruturante da campanha, sempre, porém, numa perspetiva muito conservadora sobre a questão, considerando as diversas opiniões sobre a matéria já emitidas por alguns dos candidatos ao lugar mais importante na estrutura das águias.
Está, evidentemente, muito dinheiro em jogo, que engloba percentagens para todos os clubes integrantes das duas provas profissionais de regularidade da Liga Portugal, mais significativas (obviamente) para os emblemas que, por mérito desportiva, melhores prestações conseguirem, e para os que, de facto, geram receitas publicitárias, chamam players e sponsors e promovem audiências substantivas.
Os modelos de difusão estão a mudar convulsiva e compulsivamente. A prova está, por exemplo, no modo como a FIFA negociou com a DAZN os direitos de transmissão do primeiro Mundial de Clubes com 32 equipas. O operador europeu optou por um modelo de transmissão em plataforma, porém oferecendo as 63 partidas a um universo global e transversal. Isso obrigou à ginástica negocial de outros importantes stakeholders do mercado internacional de televisão, obrigados a um interessante e revolucionário exercício de imaginação comercial e estratégica para garantirem esses mesmos conteúdos, ainda que com sinais codificados e, portanto, pagos pelos assinantes. As mais-valias residiram, claro, na qualidade e especificidade linguística das narrações, e em todo o conteúdo exclusivo de suporte gerado à volta de cada encontro disputado nos Estados Unidos da América.
Em Portugal, o processo de centralização avança, portanto, para a inevitabilidade. Todos, mas mesmo todos, vão ser chamados a viver uma nova era. Em dois prismas: porque são os primeiros passos num modelo novo de negociação e premiação, que requer rigor nas contas mas muita imaginação e imenso arrojo na criação de conteúdos distintivos (excelentes exemplos são os canais dedicados de televisão da Premier League inglesa e da La Liga espanhola), mas também na diversificação de plataformas, identificação de gostos e de tendências e preferências de consumo, que possibilitem um quadro de receitas adicionais por via da exclusividade e do acesso Premium.
Mesmo que o tema sirva para esgrimir argumentos e apresentar eventuais alternativas, caminhamos para uma solução ampla e o mais consensual possível. Não faz nenhum sentido a BTV continuar a transmitir os jogos do Benfica no Estádio da Luz, como não é lógico que a TVI faça o mesmo com o Moreirense, no Minho, ou a SIC possa querer estabelecer acordo com este ou aquele clubes.
Portugal sempre esteve atrás, do ponto de vista da evolução conceptual e do acompanhamento de boas e competitivas práticas vistas e sentidas no e do exterior do país. Será ótimo que não se atrase mais…
Cartão branco
É única, distintiva, especial. A Premier League tem tudo: primorosa organização, público exemplar, estádios cheios, emoção e respeito.
O principal campeonato inglês arrancou na noite de sexta-feira, em Anfield, com o Liverpool a defender um título brilhantemente conquistado a temporada passada e com quatro treinadores portugueses (contingente apenas igualado… pelos espanhóis): Marco Silva, Nuno Espírito Santo, Vítor Pereira e Ruben Amorim.
Este quarteto demonstra à saciedade a qualidade intrínseca dos técnicos lusos mas, também, a capacidade de adaptação a adversidades e a um ecossistema competitivo único no mundo.
Pelos desafios, pela coragem e pela capacidade de superação… chapeau!
Cartão amarelo
A justificação para a realização do CHAN (Campeonato Africano das Nações, uma prova restrita aos atletas que atuam nos respetivos países), levanta importantes dúvidas e motiva diversas opiniões sobre o modo competitivo como deve ser encarado pelos selecionadores nacionais.
Em Angola, porém, tudo ganha um especial efeito de multiplicação. As ambições também. Por isso, a eliminação precoce dos Palancas Negras da competição organizada na Tanzânia, no Quénia e no Uganda levantou polémica e celeuma.
Uma vitória e um empate foram insuficientes para seguir em frente, e parece estarem a colocar em causa a continuidade de Pedro Gonçalves como selecionador nacional. A seguir com muita atenção…"

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