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quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Bruno Lage e o piloto de avião


"Há uns anos, um cartoonista americano da revista New Yorker, desenhava uma situação peculiar. Um passageiro de pé no seu assento e com uma mão levantada, interpelava os restantes passageiros, afirmando que os pilotos eram uns presunçosos, alheados da realidade dos viajantes comuns e, consequentemente, questionando: "Quem acha que devia ser eu a pilotar o avião?" Uma dúzia de mãos levantaram-se entusiasticamente, em aprovação.
O irónico cartoon, abordava o tema da voz "anti-peritos", que tem vindo a crescer nos últimos anos.
A situação retratada veio-me à memória, em resultado das várias vozes do universo benfiquista que questionaram o "piloto" Bruno Lage, sobretudo após os jogos contra o Bayern e o AVS. A manifestação geral de deceção pelos resultados e as exibições produzidas, parece-me perfeitamente normal. Como aconteceu também com a injusta derrota em Alvalade, assente numa medíocre primeira parte. Mas o conteúdo específico? dos protestos, nos jogos referidos, incluía, designadamente, planos de jogo alternativos, alinhamentos distintos, momentos de substituição diversos, preparação motivacional diferente.
Aos 48 anos, Bruno Lage, além de ter todas as numerosas qualificações requeridas e as certificações necessárias para ser um treinador de topo, dispõe de uma experiência eclética na Premier League, no Championship, nas Ligas portuguesa e brasileira, bem como participações na Liga dos Campeões. É um "piloto" certificado cujo trabalho deve ser avaliado, com exigência, no final da época.
Atualmente, o mundo do desporto profissional, assenta em avultadas competências científicas e técnicas de disciplinas diversas. O futebol profissional e o basquetebol da NBA, são, provavelmente, o cume dessa pirâmide multidisciplinar de conhecimento. Resulta curioso que os autores do "fogo amigo" acreditem que, na informalidade, e com base apenas na sua observação exterior, somada ao seu fervor clubístico, podem arquitetar melhores soluções do que Bruno Lage e a sua equipa técnica. Outros técnicos (Ancelotti, Klopp ou Arteta), poderiam ter feito melhor? Possivelmente sim. Mas ser-se eventualmente perito noutra área profissional, e um observador traquejado de futebol, não nos transforma automaticamente em "pilotos" certificados de uma equipa de futebol.
Esta tendência atual, para de dentro do ecossistema dos clubes, se disparar "fogo amigo" sobre os treinadores, vai-se avolumando. No Real Madrid, Ancelotti-agora o treinador com mais títulos internacionais na história do clube-foi internamente criticado pelos alinhamentos escolhidos nesta época. Como "piloto" experiente e galardoado, respondeu: "Fiz 1300 onzes titulares na minha carreira, não creio que ninguém aqui me possa dar conselhos".
Por vezes, alguns peritos, cometem os mesmos erros que nós, os leigos, pretendendo abordar domínios que não são o seu território específico de saber. Rafa Benitez, quando treinou CR7 no Real Madrid em 2015, tentou modificar a sua técnica de remate nos livres diretos. Achava-a deficiente. A chacota generalizada demorou algum tempo a passar.
O problema do "fogo amigo", é o poder somar-se ao "fogo" dos rivais. Nestes, alguns dos seus habituais pregoeiros, reagiram à melhoria benfiquista pós-Schmidt, com a néscia repetição dos mesmos slogans, invocando pseudo favorecimentos arbitrais.
Provavelmente este "remake" deve-se ao facto do Benfica, com Bruno Lage, já não estar afastado da luta pelo titulo da Liga e estar ainda em posição de jogar o playoff da Liga dos Campeões.
Também por isso, num período crucial das competições, convirá marcar uma pausa nas criticas ao treinador, acompanhar serenamente as suas decisões e apoiar sempre a equipa. No final da época, o clube certamente avaliará as classificações, as exibições, a valorização do plantel, o lançamento de jovens talentos, a interação com os sócios e adeptos, tudo parâmetros significativos para uma avaliação 360º a Bruno Lage e ao seu corpo técnico.
É certo, que hoje é unanimemente reconhecido que a avaliação do técnico anterior terá tardado, e que essa saída lenta terá custado ao Benfica 5 pontos na Liga em curso. Contudo, no Sporting, o movimento oposto - entrada prematura do treinador do "processo "- custou 8 pontos e o fim de uma supremacia até então incontestada.
O Presidente do SCP ironizou sobre os custos para o Benfica gerados por essa saída lenta.
O tempo dirá, quais os custos desportivos e financeiros totais da "entrada prematura" que promoveu e na qual persistiu durante as seis semanas em que esteve demasiado ocupado consigo mesmo. Não é fácil defender simultaneamente a verdade e o seu próprio ego. O senhor Presidente foi lesto na decisão. E, felizmente, foi lento, muito lento, na correção."

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