"Algarvios estiveram seis minutos em vantagem, mas os encarnados, como tantas vezes tem acontecido com Bruno Lage, deram a volta ao resultado
Pode ser sadismo ou masoquismo. A verdade é que, em jogos da Liga com Bruno Lage, o Benfica sofre golos primeiro e recupera depois. Seduz os adversário oferecendo-lhes um golo (como no Algarve) e depois recupera o fôlego e soma mais três pontos.
No fundo, o Benfica parece possuir um motor híbrido: entra em campo a funcionar com gasóleo e depois, pouco a pouco, vai aumentando as octanas e, por via da maior potência da gasolina, dá a volta aos resultados. Frente ao Farense, porém, teve dose elevada de sofrimento, com vantagem tão magrinha e com o Farense a poder marcar a qualquer instante. Como mesmo no finalzinho, com Cuba a fugir pela esquerda e Carreras a evitar que o empate punisse a menor consistência defensiva dos encarnados na parte final do segundo tempo. Vitória justa da águia de Lage, sim, claro, mas bem sofridinha…
Não se previa que o Benfica sofresse tanto como acabou por sofrer. De um lado estava o pior ataque da Liga (apenas 3 golos marcados), uma das piores defesas (já 15 golos sofridos) e o último classificado (4 pontos em 9 jornadas); do outro, estava uma equipa que, após a mudança de treinador, somara 4 vitórias em 4 jogos e ainda uma diferença de golos bem expressiva (17-2). Quem dissesse que o Benfica não era, de forma clara, o favorito, estaria a desviar atenções.
Porém, uma dúvida há algum tempo se instalara: será que os encarnados vão, mais uma vez, sofrer golos primeiro e só depois marcá-los e recuperar? A dúvida demorou apenas 15 minutos a ser desfeita. Após um alívio frontal de Otamendi, Miguel Menino colocou a bola em Pastor e este cruzou de forma perfeita para Darío Poveda, na área, a finalizar de pé direito, com culpas para a defesa encarnada.
Era a terceira vez que, na Liga e com Lage, o Benfica ficava em desvantagem. Foi assim frente a Santa Clara (4-1), Gil Vicente (5-1) e agora Farense (2-1). As águias sofreram golos muito cedo (1’, 8’ e 15’, respetivamente) e tiveram depois de fazer uso daquela mirabolante frase do futebolês nacional: ir atrás do prejuízo. Por sorte para os benfiquistas, o prejuízo foi rapidamente apanhado nos três jogos, através dos golos de Arkurkoglu (27’), Otamendi (17) e ontem Carreras (21’).
O golo do espanhol, após abertura de Akturkoglu, na esquerda, para o espaço onde só estava Carreras, trouxe justiça aquilo que tinha sido o jogo até então. O Benfica, com Florentino de regresso ao onze, andou sempre muito próximo da área do Farense (momentos houve em que apenas Trubin estava no meio-campo encarnado), mas a equipa de Tozé Marreco não se limitava a defender bem a baliza de Ricardo Velho, apesar de colocar cinco homens na fase defensiva.
Nada disso. Sempre que tinham bola, os algarvios tentavam construir e chegar à outra baliza. Não foram muitas as vezes em que, no primeiro tempo, tal aconteceu, mas desengane-se quem possa pensar que Tozé Marreco colocou um autocarro fixo na frente da sua baliza. Nada disso, número 2. Defendeu muito bem, sim, com muitos homens, sim, mas sempre espreitando algo mais do que apenas defender, defender, defender…
Quando se foi para o intervalo, Bruno Lage estava, obviamente, insatisfeito com o empate. E não esperou mais tempo para mexer. Trocou Bah por Beste e o Benfica melhorou. Aliás, melhorou também o jogo, pois o início da segunda parte foi frenético: após canto de Baldé, Moreno desviou, com perigo, por cima da barra (48’); Pavlidis obriga Ricardo Velho a tremenda defesa (49’) e, logo de seguida, Poveda passou por Otamendi e rematou para bela intervenção de Trubin (49’).
Era o prelúdio para mais um golo. O 2-1 de Pavlidis. Kokçu serve Di Maria na direita, este abre em Akturkoglu, o qual, na linha de fundo, cede a bola ao avançado grego. Terceiro golo em dois jogos para o homem que até há pouco estava em jejum forçado.
Estávamos no minuto 54 e só pertinho do final a emoção voltou. E, desta vez, com o Farense perto do empate, através de Geovanny (não emendou cruzamento de Bermeio, aos 90+2’) e Cuba (entrando na área com perigo, surgindo Carreras a evitar o remate, aos 90+5’).
A vitória do Benfica foi magra, sim, mas justa, embora o Farense tenha provado que, jogando assim, vai somar muito mais pontos do que até agora. Houve emoção até ao segundo final e, através de mais uma reviravolta do rei das reviravoltas (Lage), o Benfica somou 15 pontos nos últimos 5 jogos. Melhor era impossível."
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