"O relatório da EY sobre a gestão de Vieira revela práticas de gestão que, se não são crime, são moralmente condenáveis. E a pressão sobre Rui Costa aumenta.
Finalmente, é divulgada a auditoria forense realizada pela EY ao consulado de Luís Filipe Vieira no Benfica, já pronta desde maio, e agora enviada ao Ministério Público. E o que se lê não é bonito. O Benfica é um clube de futebol, mas foi também um entreposto comercial de jogadores de qualidade mais do que duvidosa e que serviu apenas para a circulação de enormes transferências financeiras para sociedades offshore sem identificação do último beneficiário e para pagar milhões em comissões.
A auditoria foi pedida por Rui Costa, uma inevitabilidade depois dos processos judiciais que atingiram o antigo presidente. Qualquer analista independente — ou mesmo os mais fervorosos adeptos anti-Vieira — têm de reconhecer que o clube estava no chão. Luís Filipe Vieira recuperou o orgulho benfiquista, e as contas também. Mas esse passado, como o de Pinto da Costa no FC Porto, não é nem pode ser uma via verde para gerir o clube sem prestar contas, sem cumprir regras, sem cumprir estatutos ou cuidado de garantir uma boa governação do clube e da Sociedade Anónima Desportiva e de os proteger de conflitos de interesse e de uma obrigatória e saudável separação entre negócios privados e do Benfica.
A EY analisa o período de 2008 a 2022, e começa pelo fim, pela conclusão: “Não identificamos nenhuma situação ou particularidade em que a SAD do Benfica tenha sido lesada por qualquer um dos seus representantes”. Mas as mais de 150 páginas que se seguem dizem-nos outra coisa. É claro que a expressão usada pela consultora tem uma dimensão forense, judicial, escrita com pinças, como os chamados ‘disclaimers’ iniciais sobre as condições em que a auditoria foi feita. Com acesso a documentos do Benfica, e até às caixas de email dos gestores sob análise, mas sem condições para verificar ou comprovar a fiabilidade daqueles documentos.
As conclusões, reveladas pelo ECO em primeira mão (aqui, aqui e aqui), mostram práticas dificilmente alinhadas com os interesses do Benfica, pelo contrário. Aqui ficam algumas das conclusões da auditoria a 51 transferências de jogadores de um total de mais de 175.
A EY salienta, na auditoria, que os resultados contabilísticos de todas estas operações geraram mais-valias. O saldo é positivo a favor da Benfica SAD, em 97 milhões de euros – 108,883 milhões em transações com resultados positivos (lucro entre compra e venda dos passes dos jogadores) e 11,8 milhões em transações com resultados negativos. Mas estes números dizem pouco, ou não contam toda a história. Em 51 transferências, mal seria se o Benfica não tivesse registado mais-valias. O problema são aquelas que não fazem capa de jornal, que passam debaixo do radar, e que dão prejuízos, e também comissões.
Rui Costa está numa encruzilhada. Poderia ter feito um corte com o passado, mas arrisca-se a ser o Marcello Caetano do Benfica, que tentou fazer a ponte entre dois regimes, sem causar estragos, e acaba a ser cúmplice de uma degradação institucional que ganhou outra relevância com a demissão de Luís Mendes, o gestor que levou para a SAD quando assumiu a presidência. Se outros gestores executivos apresentarem a demissão nos próximos dias, coisa provável, o presidente do Benfica vai ter de avaliar a necessidade de ir a votos mais cedo para validar o seu projeto desportivo e de gestão, o chamado associativismo e a sua influência na dimensão empresarial, e o modelo de governação que definiu ou que está a deixar que definam por si."
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