"Uso a expressão de um velho amigo para sintetizar a evolução, recente e positiva, do jogar do FC Porto: Sérgio Conceição deu a mão à palmatória sem dar o braço a torcer. No fundo, repete-se o filme de há um par de anos (2021/22), quando, a custo, acabou por lançar Vitinha – antes desaproveitado também pelo Wolverhampton, que o teve na mão por uma pechincha de 20 milhões e deixou fugir – e Fábio Vieira, para edificar o melhor Porto de que foi autor nos agora sete exercícios preparados no Olival.
Como então, tratou-se agora de acrescentar critério e talento, particularmente com a inclusão de Nico González e Francisco Conceição no onze inicial. Bem se pode invocar que houve uma preparação prévia, nos treinos, para os lançar em definitivo na equipa, mas não só teria sido natural que crescessem (sobretudo taticamente) jogando mais vezes, como me parece óbvio que, sobretudo no caso do médio espanhol, houve um esquecimento errado e que chegou a parecer definitivo. Aliás, é sintomático que Nico volte a ser utilizado precisamente no momento em que se anunciava a sua saída para o Girona, do mesmo modo que Gonçalo Borges viu anulada a viagem para Lille quando já era anunciado o cartão de embarque. Antes que alguém
os aproveitasse melhor, Conceição agarrou-os. Fê-lo com atraso, mas fê-lo bem. E antes tarde que nunca.
Desde a eliminatória da Taça no Estoril, quando inaugurou a nova estrutura, que o rendimento portista melhorou muito. Ainda são poucos os jogos desde então, é certo, mas também é verdade que a equipa estabilizou, mesmo quando temporariamente amputada de Taremi, a sua mais produtiva unidade de ataque dos últimos anos. Com Nico González no onze, o jogo tornou-se mais fluido e lúcido, que a qualidade de decisão do espanhol não tem comparação
com a de qualquer outro médio do plantel. Acresce que também Varela beneficia do facto de ter alguém que o deixa mais disponível para se concentrar nas tarefes de pressão e equilíbrio em que verdadeiramente se distingue.
A inclusão do mais novo do clã Conceição produz um efeito ainda mais impressivo, que as suas ações com bola são particularmente impactantes. Francisco deixou de ser o bombeiro chamado em desespero para abrir fechaduras quando o tempo se esgota. Já não se lhe pede só que agarre na bola e enfrente o mundo em dribles sucessivos. De um peça que mecanicamente se acrescenta à máquina passou a integrante de um todo orgânico. E com ele em campo, Pepê pode dar o que tem de melhor e mais adiante no campo, seja a acelerar com bola ou a procurar o espaço sem ela. Os movimentos interiores que Francisco também faz, não só possibilitam outro tipo de diagonais a Pepê (também de dentro para fora), como abrem o corredor para João Mário apresentar os seus melhores argumentos, ofensivos.
Em resumo, sem bola a equipa não perdeu muito, porque a combatividade de Pepê garante a capacidade de pressão é marca do ADN deste Porto e que foi evidente no duelo com Braga. Em posse, a equipa está mais criteriosa e sobretudo mais criativa. E assim cresce, menos obcecada com as acelerações nem sempre lúcidas de Galeno e, finalmente, menos saudosa da ligação que garantia Otávio. Com um Sporting firme e um Benfica reforçado, há também
mais e melhor Porto, num campeonato que promete agora uma luta a três, provavelmente até ao fim."
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