"Pratica futebol vibrante e para reclamar modelo quase perfeito talvez necessite de menos rigor tático e mais espaço para os mágicos da bola ‘brincarem’ e marcarem mais golos, como o de Nuno Santos
O Sporting fez a curva para a segunda volta da Liga na cabeça do pelotão, o que não suscita surpresa nem provoca discussão. Soma mais pontos, tem mais golos marcados, está forte, respira confiança e acredita no seu trabalho, que assenta numa ideia de jogo que privilegia a força e a velocidade em detrimento da arte, restringindo a liberdade aos mais talentosos para inventarem e divertirem quem os vê jogar. É esta a imagem que extraio de Pedro Gonçalves, um praticante de classe superior, do meu ponto de vista o mais virtuoso do plantel leonino, e que devia de ser ele e mais dez, mas sucede o inverso: é ele a fazer de empregado para todo o serviço, mudando em função do objetivo comum.
É claro que Rúben Amorim está-se nas tintas para aquilo que eu penso, e tem razão, porque no sucesso e no fracasso é dele a decisão e é a ele que os adeptos pedem responsabilidades, mas esta minha observação não passa de uma inócua curiosidade.
O Sporting gerou um projeto alicerçado em determinados parâmetros, perfeitamente visíveis no ano do título, com uma equipa feita por medida, entretanto desfeita, por razões diversas. As mais recentes contratações, porém, permitiram-lhe recuperar a matriz original. Gyokeres caiu do céu e a chegada do dinamarquês Hjulmand depressa fez diluir as saudades do uruguaio Ugarte. Portanto, leão na frente e, repetindo-me, se me perguntarem se é o principal candidato ao título, direi que sim. Está sólido e creio ter recuperado a força de acreditar que o levou ao título em 2021. Pratica um futebol vibrante e para reclamar um modelo quase perfeito talvez necessite de menos rigor tático e mais espaço para os mágicos da bola brincarem e marcarem mais golos, como o de Nuno Santos.
Na Luz, a família benfiquista apanhou um valente susto, e como se não lhe bastasse o sofrimento por que passou ainda teve de aturar as lamúrias do indignado Luís Freire, que voltou a aproveitar-se da circunstância de defrontar um grande para fazer uma peixeirada de bairro, tal como sucedeu na última época, quando se pegou com Sérgio Conceição por este ter criticado o antijogo da equipa de Vila do Conde. Desta vez, despejou o saco das suas amarguras ao ponto de ter dito que se calhar o problema seria ele próprio…
A verdade é que chegou a esta jornada no 15.º lugar e saiu dela uma posição abaixo, sem qualquer triunfo registado em jogos fora. Queixe-se da falta de sorte ou do árbitro, mas sem passar a fronteira do razoável, como penso que passou, porque aquilo que sentiu que poderia ter alcançado e não conseguiu foi mais por culpa de Morato, que entrou a dormir e nunca acordou, a colocar urgência máxima na contratação de um lateral-esquerdo. Sinto dificuldade em acreditar que Jurásek não faça melhor, tal como não compreendo o preenchimento de uma vaga com uma segunda versão Draxler, que é o que se passa com Bernat. Não faz sentido tamanha trapalhada, que os adeptos esperam definitivamente resolvida com a chegada do espanhol Álvaro Fernández.
Mas não foi só a defesa a meter água diante do Rio Ave. Um meio-campo disperso e trapalhão, onde Kokçu tarda em afirmar-se, ajudou à festa, dando liberdade aos oponentes para se aventurarem a seu bel-prazer. Aliás, este jogo veio sublinhar a dificuldade que o Benfica tem encontrado para se afirmar ante adversários que se fecham numa linha de cinco defesas, às vezes seis, ou que montam a feira à frente da sua área e dali não arredam pé.
Os encarnados têm sido fortes com os grandes, mas mostram uma evidente inabilidade perante os pequenos, contabilizando dois empates em casa (Casa Pia, 9.ª jornada, e Farense, 13.ª) e um fora (Moreirense, 12.ª). No entanto, este jogo com o Rio Ave deve dar que pensar ao treinador alemão, pois se a equipa começou mal e não deu sinais de mudança depois do intervalo é porque não ouviu o que ele disse ao intervalo. A propósito, «Schmidt tem de começar a trazer novos músculos e pensamentos ágeis ao jogo da águia», escreveu Luís Pedro Ferreira, diretor de A BOLA, ontem, na sua Opinião.
Se o Sporting pode ser visto como principal candidato ao título, pelo contrário, este final da primeira volta da Liga despromoveu o SC Braga a candidato a candidato, nada que espante depois de ter falhado os três pontos no dérbi do Minho, ao esbanjar preciosa vantagem de um golo no período de compensação, em que o seu treinador ordenou três substituições em dois minutos. Desestabilizou o grupo e, como agradecimento, o vimaranense João Mendes, com um pontapé soberbo, teve o seu «momento de felicidade» para empatar a partida.
A meio da semana, com a organização defensiva do Benfica instável e a sofrer dois golos, ambos por Zalazar, na sequência de pontapés de canto, mesmo assim Artur Jorge regressou a casa eliminado da Taça de Portugal.
Anteontem, no Dragão, nenhuma surpresa. O FC Porto foi mais competente e ganhou com autoridade. Quanto ao SC Braga, a dez pontos do líder, como assinalou Vítor Serpa na crónica do jogo, significa que «o sonho de um título se vai manter como sonho»."
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