Últimas indefectivações

sábado, 9 de abril de 2022

Não gosto muito de futebol


"Escrevo esta crónica horas antes do jogo da primeira mão dos quartos de final da Liga dos Campeões, com o Liverpool. Quando a estiverem a ler, já saberão o resultado: uma vitória épica do Glorioso ou uma derrota previsível contra uma das atuais três melhores equipas do mundo.
Já sinto a adrenalina do aproximar da hora e pela cabeça vão passando memórias de grandes noites europeias, nacionais e mundiais, de superação, vontade e com aquela pontinha de sorte que faz os campeões. Viajo no tempo até ao antigo pavilhão da Luz e parece que estou a ver Carlos Lisboa, Jean Jaques ou Mike Plowden a bater o pé aos gigantes do Panathinaikos. Ou até Panchito Velásquez marcou mais um golo fabuloso, fazendo malabarismo com o stick e um par de patins. Viajo pela história do clube e aterro em Los Angeles, com a medalha de bronze de António leitão nos 5000 metros dos inesquecíveis. Jogos de 1984, onde Alexandre Yokochi atingiu a final olímpica dos 200 metros bruços. Ou o duplo ouro olímpico de Nélson Évora e Pedro Pichardo no triplo salto de Pequim e Tóquio. Sem esquecer a Liga dos Campeões de futsal conquistada pelo SL Benfica em 2010, num Pavilhão Atlântico com mais de 15 mil pessoas.
Quando há uma noite destas, ou uma eliminatória deste calibre, nunca consigo dissociar todo o ecletismo do clube daquilo que é, apenas, uma partida de futebol. Vão perdoar-me por isto, mas de todas as modalidades existentes no universo benfiquista, o futebol até nem é a mais interessante e espectacular. E não é apenas pelas falcatruas, antijogo e internáveis discussões, vão ver a nossa equipa masculina de voleibol ou as femininas de hóquei em patins, basquetebol e andebol e depois falamos. Já vos disse no início: não gosto muito de futebol. O que eu gosto é do Benfica."

Ricardo Santos, in O Benfica

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