"Na sua obra Le sport contre l’Éducation physique (1925), Georges Hébert, oficial da marinha, mostra-se um tanto ou quanto pessimista. Com discernimento, ele nota alguns dos perigos físicos, morais e sociais do desporto. No entanto, a sua lucidez não o leva a colocar em causa a lógica da sua prática. Noventa e cinco anos depois, as interrogações do pai do método dito natural, método que visa o aperfeiçoamento moral e físico do indivíduo através da prática desportiva, continuam actuais. Em Fevereiro de 2013, Valérie Fourneyron, ministra francesa do desporto, da juventude, da educação popular e da vida associativa, refere que “é preciso preservar o desporto, a nossa paixão, a nossa ferramenta de educação, dos erros e dos males”.
Afirmar que o desporto é um vector essencial da formação física, e um absoluto meio de educação, que modela a vontade e a inteligência, é permitir uma aparência de verdade demonstrada. Desde a sua origem, a prática desportiva é qualificada de inestimável instrumento de adestramento do animal humano e os treinadores são referenciados por terem uma “alma de domadores”. Mais do que nos bancos de escola, é nos estádios que se adquire as virtudes indispensáveis: vigor, resistência, gosto pelo esforço, audácia, abnegação, sangue-frio, ordem, disciplina, docilidade, fair-play, modéstia, simplicidade, altruísmo, indulgência. Retocado, aqui ou ali, pelos escritores e intelectuais, este discurso convence todos os sufrágios.
Num artigo no Monde de l’Éducation, datado de Junho de 1998, o conhecido filósofo francês Michel Serres (1930-2019) convida-nos para uma estranha lição: “nada pode resistir ao treino, cuja ascese dos gestos poucos naturais promove as virtudes necessárias de concentração, de coragem, de paciência, de domínio da angústia (…). O atleta que faz batota ou mente não encontra nem inventa, tal como o atleta de salto em altura não mente nem faz batota com a barra. Esta regra de ferro vira as costas a todos os usos das sociedades profissionais, políticas, mediáticas, universitárias que coroam os bandidos”.
O tema recorrente do carácter educativo do desporto assenta, muitas vezes, num positivismo cultural que considera que a lei natural da organização das sociedades e das relações humanas é a competição. De referir também que a educação física e o desporto são duas realidades inicialmente distintas, que se vão interligar lentamente quando se concebe as “funções educativas” do desporto."
Sem comentários:
Enviar um comentário
A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!