"Só não fico mais aborrecido com a actual política de contratações do Benfica porque ainda ontem me aconteceu o mesmo. A minha mulher pediu-me expressamente que fosse ao supermercado buscar água, legumes para a sopa dos miúdos, medalhões de pescada e queijo roquefort. Fez questão de me enviar uma mensagem para que não me esquecesse de nada. Eu apareci em casa com água das pedras, bifes de peru, uma caixa de gelado e aqueles queijinhos da vaca que ri. É verdade que não falamos desde ontem, mas, na vida como no futebol, tenho a certeza que a coisa se resolve, até porque eu tenho as chaves do carro.
Portanto: o Benfica precisava de chegar às 23:59 do dia 31 de Agosto com um guarda-redes, um lateral, um central e talvez mais um médio assegurados. Veio um guarda-redes, um lateral e um extremo direito. Não é perfeito, mas a verdadeira questão é: chega para dar na pá aos rivais e conquistar o pentacampeonato? Depois do que vi nas últimas quatro épocas, não me admiraria muito. Numa altura em que o Benfica paga mais ao Hospital da Luz do que a Jorge Mendes, o importante será mesmo recuperar algumas peças-chave do plantel a tempo de evitar embaraços.
Na baliza espera-se uma disputa acesa entre Bruno Varela e esqueçam, o tal Svilar deve ter saído do avião e foi logo treinar. Quanto mais depressa o novo Michel Preud’homme estiver pronto, melhor. Sem pressão, miúdo. Curiosamente ou não, Michel Preud’Homme foi titular numa das piores fases da história do clube, portanto esperemos que as semelhanças com Svilar comecem na nacionalidade e terminem no cabelinho à futebolista dos anos 80.
Se ignorarmos o facto de este miúdo nunca ter feito um jogo enquanto sénior, pode dizer-se que a baliza está bem entregue. Este é aliás o factor estruturante do actual plantel: toda a gente parece convencida de que as coisas se vão resolver de uma forma ou de outra, mais voucher menos voucher.
Ninguém quer dramatizar ou levar demasiado a sério estas questiúnculas do defeso. Se dúvidas restavam sobre a estratégia para este época, foram esclarecidas por Luís Filipe Vieira quando vestiu um fato de treino para apresentar os novos reforços. Compromissos publicitários, dirão os cínicos.
Eu vejo um homem de bem com a vida, que aprendeu a desvalorizar os formalismos bacocos da nossa sociedade. Aliás, por mim pode aparecer de calção e chinelo da piscina quando formos buscar um central em Janeiro.
Na defesa, temos sabido aproveitar o tempo disponível para testar diferentes soluções. Por exemplo, só na lateral direita, em quatro semanas tivemos Aurélio Buta e Pedro Pereira, que juntos não fazem um futebolista, o bombeiro voluntário André Almeida, um tal de Mato Milos que não chegou a sair do aeroporto e finalmente Douglas, o suplente do suplente de Nélson Semedo, cuja saída fez os adeptos do Barcelona festejarem pela primeira vez esta época.
E ainda só falámos de uma posição. No centro da defesa, teremos em Jardel, Lisandro e Luisão o chamado trio que vale por dois. Ninguém achou relevante contratar um central. Não se percebe se o objetivo é acrescentar emoção ao campeonato, testar a resistência dos adeptos, ou simplesmente criar as condições para uma entrada heróica de Kalaica e Ruben Dias. Quero acreditar que os guionistas do Seixal têm tudo controlado.
Finalmente, na esquerda, e para desgosto de todos os engraçadinhos deste país que escrevem no Expresso, Eliseu e Grimaldo vão continuar a resolver.
Do meio-campo para a frente o cenário é bastante mais animador. Temos opções de sobra para fazer face a todos os encargos fixos (Liga) e variáveis (Champions) do agregado familiar, mesmo que alguém se lesione todas as semanas até Maio. O núcleo duro mantém-se: Pizzi, Fejsa, Salvio, Cervi, Jonas e agora o incrível Seferovic. Depois: Filipe Augusto será vendido à Lazio por 80 milhões; Samaris continua no plantel, disponível como sempre esteve para ajudar com uma ou outra cotovelada; Chrien e Krovinovic deverão passar mais algumas semanas naquela caixa especial do Seixal a preparar a sua ascensão futebolística enquanto novo Matic e novo Pizzi, respectivamente. Zivkovic e Rafa continuarão a ser suplentes de luxo sempre que ganharmos, ou desperdícios de dinheiro sempre que jogarmos mal e ficar tudo dependente dos suplentes, uma estratégia que já deu os seus primeiros frutos em Vila do Conde.
Quanto a Jimenez, espera-se que decida meia dúzia de jogos, não sabemos ainda se com o golo do empate ou da vitória. Finalmente, temos um tal de Gabriel Barbosa, Gabigol para os mais crédulos, grande reforço sonante a fazer lembrar, sei lá, um Keirrison, que chegou a Portugal e citou Isaías 40:31. Meu caro, fica uma dica: o único Isaías que interessa aos benfiquistas é o 93:94. Se não sabes vai à Wikipédia ou ao YouTube.
Em suma, uma época em que o Benfica não se leva demasiado a sério e convida os adeptos a observarem atentamente de fato de treino vestido, quiçá enquanto comem uma frutinha desidratada. Deixemos calmamente que o destino se resolva, mais coisa menos coisa, rumo ao penta."
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