"Conheci o Nicolau Santos na redacção do "Público" no Outono de 1996 quando os trabalhadores do jornal da Sonae viram sair o seu extraordinário director/ fundador e viram entrar Nicolau Santos que foi a escolha de Belmiro de Azevedo para o lugar deixado vago por Vicente Jorge Silva. Foram tudo menos amáveis esses tempos que Nicolau Santos padeceu naquela que foi a sua curta experiência de dirigir o "Público" num ambiente de motim permanente encabeçado pela ala que haveria, mais tarde, de lhe suceder. Passaram-se, entretanto, 20 anos e o episódio não passa hoje de uma velha reminiscência na história de um jornal com o seu cotejo de decências formais e indecências funcionais de que, provavelmente, já poucos se lembram – e ainda bem – em função da largueza de pormenores e de protagonistas assanhados.
Devem contar-se pelos dedos de uma mão as vezes em que, nestes 20 anos, voltei a encontrar ou a conversar fugazmente com o Nicolau Santos que sempre mereceu a minha simpatia e sempre continuará a merecer a minha amizade (muito distante, é certo) e um justo respeito sendo que o respeito, ao contrário das amizades, jamais pode ser distante porque o respeito ou é ou não é. E neste caso, é.
A meio desta semana, lendo o texto que o actual director do "Expresso" escreveu sobre o seu clube e fez publicar na edição on-line do jornal, dei comigo a recordar a breve passagem do Nicolau pelo "Público". Uma das suas primeiras e louváveis atitudes enquanto director foi a de resignar à posição que tinha no chamado Conselho Leonino – o órgão consultivo do Sporting Clube de Portugal – com o fim de exercer o seu novo cargo "acima" e com o máximo de distância das turbulências sociais que o futebol gera e gerará. As opiniões sobre a equipa de futebol do Sporting expressas por Nicolau Santos esta semana são tão legítimas como as opiniões de qualquer outra pessoa sobre esse ou qualquer outro assunto, convenhamos desde já.
Sendo o "Expresso", no entanto, um semanário generalista "de referência" e sendo a posição de Nicolau socialmente bem diferente da dos directores dos jornais desportivos ou da dos comentadores afetos a emblemas, que interesse verá o meu amigo Nicolau em vestir a camisola do seu clube e sujeitar-se a estas baixíssimas guerras da bola? Conhecendo-o, sei que não é por interesse, é por amor que, descendo do altíssimo patamar da equidistância inerente ao seu cargo, acaba por se ver discutido nas tabernas como se de um "híbrido", um "ignorante", falho de "inteligência" e de "bom senso" se tratasse porque foi assim que, logo no dia seguinte, o diretor de comunicação do Sporting rebaixou o diretor do "Expresso". Isto será bom para o prestígio do "Expresso"? Não, não é. E será bom para Nicolau Santos? Muito menos. E porquê? Porque estar "acima" é o contrário de estar abaixo. Um abraço, Nicolau."
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