Últimas indefectivações

sexta-feira, 1 de maio de 2015

À memória do meu pai, a quem devo o ser do Benfica

"Entrei pela primeira vez com o meu pai no antigo Estádio da Luz. O Benfica ia jogar contra a CUF e a minha emoção era imensa. Em minha casa, desde cedo, ouvia falar do Benfica e do tempo em que os sócios tinham contribuído com trabalho ou com dinheiro para a construção do seu estádio. O meu pai tinha sido um desses sócios, e isso dava-lhe um imenso orgulho sempre que falava do clube, o seu clube. A paixão e o fervor que por ele sentia faziam-no considerar-se parte integrante de um todo, um grande todo, em que a soma correspondia a cada uma das partes e em que cada parte nunca se via como um simples número de uma qualquer estatística. Eram tempos em que a dúvida sobre a vitória não existia e em que a entrega de cada jogador, do primeiro ao último minuto, era total. Eram tempos que sucediam a outros tempos em que o êxito e a glória se transmitiam aos futuros adeptos, para que estes, com brio e justificada vaidade, pudessem falar do passado mas sempre na perspectiva de o projectarem no presente e quererem ver repetido no futuro.
Foi desse modo e com esse espírito que fiquei adepto do Benfica. Um adepto que não possui, nem pretende possuir, qualquer conhecimento particular que o habilite a falar de tácticas, de estratégias ou de formas de jogar, mas um adepto para quem o Benfica significa mais, muito mais, do que as competentes e eloquentes análises e comentários a este ou àquele jogo. Transmiti isto mesmo ao Dr. Sílvio Cervan quando amavelmente me convidou para escrever na Mística e lhe expliquei que outros com competências que não tenho neste domínio, poderiam melhor corresponder ao desafio que me fazia. Ainda assim, e diante da sua insistência, aceitei o seu convite, quer como forma de homenagear o meu pai, que teve o emblema de ouro do clube, quer como forma de testemunhar o permanente contacto de gerações que o Benfica proporciona a milhares de famílias portuguesas. São disso exemplo os meus sobrinhos Baltasar, Luís Roque, Ana, Afonso, Salvador, Luís e Pedro, que com idades compreendidas entre os 16 e os seis vibram com o Benfica e vivem o Benfica de um modo entusiasmante e profundamente contagiante. Uns são sócios e outros não o são, porém em nada se diferenciam quando se trata de apoiar e de defender o clube. A sua chama, sendo idêntica à das gerações mais antigas, é uma chama intemporal, não dependente de épocas ou de fases e não sujeita a conjunturas ou a momentos melhores ou piores do mundo desportivo. E essa é, sem dúvida, uma das grandes características de um clube que é mais do que um clube, de um grupo desportivo que é mais do que um grupo desportivo. Um clube que, indiferente ao tempo, continua a atrair e a marcar quantos a ele aderem, nos mesmos termos em que nesse jogo contra a CUF me senti empolgado, não apenas com o que se passava dentro de campo, não apenas a vitória do Benfica, mas com a grandeza de um ambiente sempre plural, que une o que tantas outras circunstâncias da vida divide. Viva o Benfica!"

Manuel Monteiro, in Mística

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