"Em dois anos seguidos, o Benfica foi o representante português no famoso Torneio de Montreux de Hóquei em Patins - um segundo lugar e uma vitória, a única de clubes portugueses na prova.
ORA, se me dão licença, vamos lá finalmente ao curioso caso do Torneio de Montreux conquistado pelo Benfica em 1962. Montreux, bonita cidade da Suíça, entornada sobre o Lago Geneva. Quase todos nós, sobretudo os que já caminham dos 50 para cima, têm gratas recordações do célebre Torneio de Montreux, também conhecido por Taça das Nações. Só que ne sempre foi das nações, por vezes foi de clubes, como já iremos espreitar.
Aliás, o torneio passou por diversas designações. Em 1921 aquando das sua primeira edição, chamava-se Tournoi des Pâques, isto é Torneio da Páscoa, e com esse nome se manteve nos dois anos seguintes, dominado pelo Montreux Hockey Club, com duas vitórias, e pela selecção de Inglaterra, com uma.
Ainda não tínhamos chegado àquela espécie de Tratado de Tordesilhas que acabou por dividir o Mundo do Hóquei em Patins entre Portugal e Espanha. Os ingleses, inventores do jogo, davam cartas. Os suíços e alemães batiam-se pelos primeiros lugares, e antes da evolução do Desporto nos países ibéricos, também a França e a Itália nos foram tomando a dianteira. De pouco serviu, como sabemos. E em 1937, a orgulhosa Alemanha nazi não perdeu o ensejo de sujar com o seu nome a lista dos conquistadores.
Até 1949, o Torneio de Montreux serviu para tudo e para mais um par de botas acolchoadas. Foi Torneio de Montreux propriamente dito, foi o Campeonato da Europa não oficial (1924 e 1925), desempenhou o papel de Campeonato da Europa (1927, 1929 e 1931), e foi até Campeonato do Mundo (1939), chegando ao cúmulo de juntar no mesmo ano, em 1948, a designação de Campeonato do Mundo e Campeonato da Europa, assim mesmo, tudo junto, belo título duplo conquistado por Portugal.
As visitas do Benfica
ASSENTE-SE num pressuposto: não foi o Benfica a única equipa de clube a vencer o prestigiado torneio, como aliás já vimos no ano da sua primeira edição. O Montreux Hockey Club, fundador da prova, conta com cinco vitórias. O Herne Bay, da Inglaterra, soma duas. Tal como o Benfica, também Faversham (Inglaterra), Estugarda (Alemanha), Stade Bordeux (França), HC Monza (Itália), Voltregá, Barcelona e RCD Español (Espanha), têm o seu nome na lista.
Em 1962, o Hóquei em Portugal vivia um período confuso. O Campeonato Nacional jogava-se sob nome de Taça de Portugal, o que pode parecer estúpido, e até é, mas como não havia a taça, alguém teve a ideia peregrina de baptizar deste modo o Campeonato numa fase em que se desenrolava uma reestruturação do modelo da prova. Bizantinices, como se compreende, em que o nosso desportozinho português foi e é tão fértil.
Em 1961, curiosamente, já o Benfica tinha ficado em segundo lugar no Torneio de Montreux, atrás do Voltregá, de Espanha, num grupo decisivo no qual se encaixaram também o Modena, de Itália (3.º lugar) e o inevitável Montreux, da Suíça (4.º).
No ano seguinte, o da bonita vitória 'encarnada', participaram na prova oito equipas, divididas inicialmente por dois grupos - Benfica (Portugal), Monza (Itália), Herten (Alemanha), Audomarrois (França), selecção da Inglaterra, Hockey Montreux (Suíça) RCD Español (Espanha) e Nova Gorica (Jugoslávia). Os quatro primeiros da lista ficaram no Grupo 1, e o Benfica venceu todos: 10-2 ao Monza, 4-1 ao Herten e 6-1 ao Audomarrois. No Grupo 2, a selecção de Inglaterra e o Montreux seguiram em frente.
Pois muito bem, no grupo decisivo, o Benfica repetiu a dose: três jogos; três vitórias. Para que não restassem dúvidas quanto à justiça da conquista. 3-2 à Inglaterra; 3-0 ao Montreux e 3-1 ao Monza. Faziam parte dessa equipa nomes como o inolvidável Torcato Ferreira, um dos grandes mestres da modalidade, Livramento, Mário Lopes, Vítor Sousa, Nogueira, Albino, Urgeiro e José Pereira, entre outros.
Portugal ainda é o maior dos vencedores do Torneio de Montreux, com 17 troféus conquistados, um a mais do que a Espanha. A selecção de Lisboa conta com uma vitória (1947) e a selecção de Lourenço Marques também (1958). De resto, só o Benfica. A Taça está no Museu: vão lá vê-la!"
Afonso de Melo, in O Benfica
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