"Derrota (1-2) de novo ao cair do pano.
Impossível não associar o desfecho de Amesterdão ao que aconteceu, sábado, no Dragão. As semelhanças são grandes, se levarmos em conta o "timing" das sentenças, ambas ditadas já nos períodos de desconto, de forma a não permitir quaisquer recursos. Porém, já semelhanças não haverá se quisermos estender a análise ao futebol praticado pelo Benfica nas duas ocasiões. Cauteloso e defensivo, frente ao FC Porto; exuberante e categórico, perante o Chelsea. E se, no primeiro caso, a equipa acabou por pagar a factura de tanto retraimento desta vez o resultado foi cruel, uma vez que não reflecte o que se passou no terreno.
Nem sequer valerá a pena falar do pragmatismo inglês ou da eficácia que lhe subjaz, argumentos que, face a um qualquer resultado verificado (por mais ilógico que ele seja), sempre se invocam, quando é preciso justificar a ocorrência. Ora, a única verdade é que os ingleses foram claramente dominados pelo Benfica, sobretudo na 1ª parte, e o seu triunfo, embora legítimo, não foi, contudo, o mais justo, se é possível, como penso, fazer a destrinça entre estes dois conceitos.
O Benfica, com o seu trio do miolo mais Matic, entrou mais dominador, fazendo circular mais a bola, com uma maior disponibilidade atacante e, por várias vezes, criou perigo na área contrária. Tudo isso como resultado também de alguma inesperada permeabilidade do Chelsea no seu meio-campo e que se estendia ao seu sector mais recuado, o que determinava a concessão de muitos espaços às iniciativas dos encarnados.
Face a tamanho desequilíbrio territorial, admitia-se que o figurino de jogo pudesse vir a ganhar outros contornos, com a natural reacção do Chelsea, mas o que se assistiu foi, sim, ao prolongamento da situação, apenas interrompida por um remate de Lampard que quase ia traindo Artur. Foi, contudo, um caso isolado, um lance individual protagonizado por um dos mais inconformados e esclarecidos elementos dos "blues", que, a par de Ramires e Mata, procurou sempre contrariar o ascendente do Benfica.
Na 2ª parte, o Benfica voltou à carga e manteve a atitude inicial, mas ficou à vista que, face ao desgaste, seria impossível prolongar essa atitude por muito mais tempo, caso o Chelsea imprimisse maior velocidade ao jogo. E seria numa situação de contra-pé bem explorada pelo Chelsea e a justificar rapidez de reacção por parte do Benfica, que o marcador funcionou. Tudo começou num lançamento manual do guardião Cech (!), que apanhou desprevenida toda a gente. Isolado por Mata, Torres - que até aí fora pouco mais que espectador - fez o seu trabalho de ponta de lança e não falhou. A tal eficácia...
Jorge Jesus respondeu de imediato e bem, fazendo entrar Lima e Ola John para os lugares de Rodrigo (pouco interventivo) e do lateral Melgarejo. O Benfica conseguiu o empate, por Cardozo, na cobrança de um castigo máximo, mas o optimismo que se instalara de novo voltou a ser ensombrado com a lesão de Garay (substituído por Jardel), já depois das queixas musculares de outros jogadores nesta parte final.
Com o jogo a caminho do prolongamento - seria um teste bastante ingrato! - o Chelsea carimbou o 2-1, por Ivanovic, a concluir, sem oposição um canto de Mata. Para trás, ficara mais um grande remate de Lampard, à barra, e uma enorme defesa de Cech a remate de Cardozo. E para que o taco-a-taco neste período fosse um facto, o Benfica ainda teve fôlego para responder ao 2º golo inglês, mas Cardozo - sempre ele, já que Lima não teve oportunidade para se mostrar (talvez pudesse ter entrado mais cedo) - não foi lesto no remate.
Como se adivinhava, o cansaço terá sido o grande inimigo do Benfica, ficando a ideia de que, em melhores condições físicas, tudo poderia ter sido diferente. Mesmo assim, a equipa encarnada exibiu-se em grande plano e deu mostras de grande entrega, chegando em vários períodos de jogo a reduzir à vulgaridade um adversário que está longe de ser vulgar. Mas, como diria Jesus, admirador de Pascal, o futebol tem razões que a razão desconhece."
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