"Como em quase tudo na vida, o resultado condiciona a apreciação do que a ele conduz. No fundo, exprime uma consonância não polémica e evita o trabalho de justificar o seu contrário.
No desporto, esta regra é quase levada à categoria de universal. Os comentários sobre um jogo acabam sempre por dar razão ao resultado. À falta de melhor conclusão, há sempre a velha frase «não obstante, o resultado acaba por justificar-se». Como se vê pelo uso do verbo reflexivo, o dito resultado contém em si a justificação.
Para se perceber como esta regra, quase pavloviana, nem sempre condiz com o jogo, seria interessante fazer um teste. Imaginemos que um comentador não vê os últimos cinco minutos da final da Liga Europa e que nesses derradeiros momentos o Braga marcaria e acabaria por ser vitorioso. Ora, sem os minutos finais e com o resultado favorável ao Porto, a sua análise seria a esperada: «O Porto foi um justo vencedor. Teve mais bola, foi inteligente na ocupação do espaço, o Braga esteve quase sempre manietado por uma defesa alta dos portistas, e não teve antídoto sempre que o Porto acelerava e flanqueava o seu jogo. Uma vitória do colectivo alicerçada em valores individuais de classe.»
O mesmíssimo comentador, caso tivesse assistido à reviravolta do resultado nos últimos minutos, já remataria o seu comentário de maneira bem diversa: «Jogando com paciência e cinismo, o Braga acabou por ver premiada a sua inteligência táctica e o rigor posicional. Foi cirurgicamente venenoso nos seus rápidos contra-ataques que abalaram a defesa portista. Uma vitória do carácter, da persisitência e da ousadia.»
Que me perdoem os bons profissionais, mas percebe-se por que razão o som da minha TV vai ficando imperceptível quando vejo um jogo..."
Bagão Félix, in A Bola
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