"Faz hoje, 17 de Dezembro exactamente 50 anos que Eusébio chegou a Lisboa. Muitos textos laudatórios dispensei ao ídolo, ao amigo, ao padrinho de casamento. Basta-me, para tanto, o recurso ao meu arquivo que só ele poderia hegemonizar.
Veio de Lourenço Marques, da então África Oriental portuguesa. Ou será que veio do outro mundo? Eusébio, encurralado pelo colonialismo, no bairro da Mafalda, com aura quase angelical, pés descalços, corpo de vento, alma gentil, sangue de bola.
'I have a dream', terá dito, como Luther King, à chegada a Lisboa, menino ainda, disputado pelo Sporting, fiel ao Benfica. Dizia sim, diziam não. Dogmatizava a bola. Rajada fatal. Batuta de génio. Sedução hipnótica. Deus nativo na Luz.
Antes dele, só crença. Formou-nos o gosto, fez-nos exigentes. Culposamente, Eusébio era Portugal, era todos nós sendo apenas ele. Jamais houve um jogador tão sectariamente sublinhado. Gostava de discursar em campo, fazendo das consoantes passes e das vogais golos. Uma das poucas personalidades planetárias conhecidas pelo nome próprio.
Foram Bolas de Ouro e de Prata. Botas também. Campeonatos muitos. Em Portugal, na Europa, no Mundo. Foram mais de mil remates com rótulo certeza, nesse prazer animal, a caminho da bíblia da bola. Entre ele e os demais havia tantos fusos de distância. Só não conquistou a liberdade para marcar quando quisesse. Esteve tão próximo como os outros tão distantes. Humildemente, pediu desculpa. Por isso era grande, por isso Eusébio é o maior."
João Malheiro, in O Benfica
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