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domingo, 20 de abril de 2025

A ignorância é atrevida…


"A FIFA revelou, esta semana, a lista de árbitros nomeados (incluindo assistentes e VAR), para a primeira edição do Mundial de Clubes, a ter lugar nos Estados Unidos da América, de 14 de junho a 13 de julho próximos.
São 117 nomes, oriundos das seis confederações continentais, e correspondendo às necessidades de uma competição estruturalmente idêntica ao Mundial 2022, no Qatar, com 64 jogos durante um mês, mas com uma característica geográfica muito diversa, uma vez que o território estado-unidense obriga a deslocações aéreas frequentes e a um desgaste (até pelos quatro fusos horários existentes) muito superior.
O facto de nenhum juiz de campo português ter sido incluído na listagem final levantou, desde logo, a polémica costumeira, sobretudo nas redes sociais, onde todos são reis, valentes e imortais, a coberto, muitas vezes, de um cobarde anonimato que lhes permite escrever e publicar as mais ridículas aleivosias sob a capa de uma certeza napoleónica.
Comecemos pelo princípio: para respeitar numerus clausus continentais, a Comissão de Arbitragem da FIFA define, à partida, óbvios limites para cada uma das confederações de futebol. Essa limitação fez com que, por exemplo, Artur Soares Dias ficasse à porta do Mundial do Qatar, até porque, nesse momento, foi entendido designar também três árbitras, uma das quais europeia (a francesa Stéphanie Frappart) o que, de imediato, fechou a possibilidade de o árbitro portuense incluir a listagem final para o Mundial do Golfo Pérsico.
Com a sua despedida de fases finais no decurso do Europeu da Alemanha, o ano passado, Portugal deixou de ter representação no grupo de Elite da arbitragem da UEFA, quando, em anos recentes, havia disposto de dois lugares (para Soares Dias e para Jorge Sousa). É desse grupo, obviamente, que saem os árbitros europeus designados para as provas máximas da FIFA e, portanto, não era crível que Portugal pudesse ter algum representante no Mundial de Clubes norte-americano.
Espanta-me que alguns conceituados comentadores (até ex-árbitros) não tenham, ao longo da semana, procurado explicar a «impossibilidade prática» de nomeação de árbitros lusos para esta prova, aproveitando, ao invés, para alinhar na narrativa populista (mas absolutamente evitável) da crítica fácil, deixando nas entrelinhas a mensagem de que esta situação teria tido algo a ver com a não eleição de Pedro Proença para o Comité Executivo da UEFA, há duas semanas, em Belgrado. Nada mais falso, nada mais incorreto.
Do grupo de árbitros de Elite da União Europeia de Futebol passou a fazer parte, desde janeiro deste ano, o bracarense João Pinheiro, entretanto chamado a jogos de alguma responsabilidade e avaliado por alguns dos mais influentes elementos do colégio de observadores. Mas, tal como sucedeu com o italiano Maurizio Mariani (também ele promovido ao principal estatuto em janeiro), nunca estaria na calha para o Mundial de Clubes dos EUA. O grupo de Elite passou a contar com 30 juizes de campo, havendo nações com três árbitros (Espanha, França, Alemanha e Itália), com dois colegiados (Inglaterra e Holanda), e múltiplos países com apenas um árbitro, nos quais se inclui Portugal, com João Pinheiro.
E desses trinta, apenas onze foram apontados aos jogos da América do Norte, de nove bandeiras, uma vez que, na lista, se incluem dois ingleses (Anthony Taylor e Michael Oliver) e dois franceses (Clément Turpin e François Letexier). Diria que estão designados os onze previsíveis juizes do velho continente, e que jamais seria ponderável, neste momento e com apenas quatro meses de inclusão no grupo de Elite da UEFA, a designação de João Pinheiro.
Ora cada árbitro nomeado levará os seus dois habituais assistentes, pelo que também não era de aguardar a participação de outros nomes portugueses, como assistentes ou, sequer, como VAR (árbitros assistentes de vídeo), embora, neste domínio, Tiago Martins esteja muito bem cotado por Roberto Rosetti, o italiano que lidera a comissão de arbitragem da UEFA.
A ignorância é atrevida, todos o sabemos. E, com a voragem e a facilidade de propagação de notícias e comentários nos social media (um forte pedaço de mau caminho para quem o utiliza sem ética e sem critério…), logo se aprestaram os arautos da desgraça (tantos haverá que, provavelmente, nem fazem ideia de quantas são as Leis do Futebol!…), a esmagar, com a clareza e a firmeza das suas opiniões, a realidade da arbitragem portuguesa e da sua cotação a nível internacional, com alguns — e esses com responsabilidade acrescida na indústria, o que os penaliza — a ligarem este facto, afinal tão simples de interpretar e de explicar, à tal inexistência de representante luso no principal comité decisor e influenciador da entidade máxima do futebol europeu.
Os bons serviços prestam-se em campo e fora dele, e são normalmente acompanhados de equilíbrio, leitura das situações, alguma descrição e muita prudência nos comentários, sobretudo quando se fala de futebol e, nele, de arbitragem.
Portugal é um país de animosidade exacerbada e compete a todos os que, de algum modo, possam fazer pedagogia nesta área e nas suas implicações, não deixarem passar a oportunidade de, ao invés de atear chamas, evitá-las preventivamente.

Cartão branco I
Quando é jogado no limite, em grandes ambientes, até ao apito final, com incerteza e alternância no resultado e, neste caso, no vencedor de uma eliminatória, o futebol é extraordinário. O que se passou anteontem em Old Trafford, entre Manchester United e Lyon, para a Liga Europa, fica na memória e passa à história como um hino ao futebol mundial, ainda por cima com Ruben Amorim e Paulo Fonseca a comandarem as equipas em confronto. Que venham muitos destes jogos, e, sobretudo, que os técnicos lusos continuem a poder criar magia, com as suas equipas, pelo planeta futebol.

Cartão branco II
O Juventude Lajense nasceu na vila das Lajes, concelho da Praia da Vitória, ilha Terceira. Conquistou, no último fim de semana, o título de Campeão de Futebol dos Açores, ao vencer a prova que integrou dez equipas, oriundas de cinco das nove ilhas da Região Autónoma. Um título procurado pela formação terceirense há, pelo menos, duas temporadas Aqui homenageio, em todo o grupo de trabalho do Juventude Lajense, os campeões regionais, oriundos de todos os quadrantes de Portugal continental, da Madeira e dos Açores, como representantes do mais puro e transparente ecossistema do futebol português, longe de guerras palacianas e de egos narcísicos."

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