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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Félix, olha para Bernardo Silva


"Muitas dúvidas em nova escolha de carreira do internacional português. Mas haverá o dia em que terá de mudar. Ou será Sérgio Conceição o oitavo treinador errado?

Não haverá muitos jogadores que suscitem tanta discussão polarizada quanto João Félix. Culpa da forma dicotómica instalada de entender o jogo, mas também culpa do futebolista natural de Viseu, incapaz de ceder um milímetro nas suas convicções.
Mesmo quem não é seu fã terá de admitir que se trata de um jogador especial. A forma como toca na bola, como vê o jogo de frente ou como simplesmente transmite a nós, espectadores, o que está a pensar (mesmo que não execute bem) faz dele um futebolista de outra casta.
Mesmo as mais simples intervenções são acompanhadas de uma estética a fazer lembrar os clássicos. O que Jorge Valdano dizia sobre Vítor Baía («é elegante mesmo a sofrer golos») podia aplicar-se a Félix: até quando falha um passe há ali qualquer coisa de belo.
Mas à medida que os anos passam aumentam as contradições. Um futebolista com um grau tão elevado de inteligência espacial deveria tomar decisões de carreira condizentes com esse dom com que nasceu. Talvez seja pela autoconfiança que por vezes é confundida com arrogância: Félix acredita que o seu talento quebra todas as barreiras. Mas o tempo tem mostrado que os muros estão cada vez mais altos.
Admitindo que foi a pressão dos €120 milhões aliada à juventude que o levaram para um Atlético talhado para tocar bombo e não violino, menos se percebe ter optado mais tarde pelo Chelsea em duas ocasiões (a primeira num momento de grande instabilidade do clube, a segunda para ser concorrente direto do melhor jogador da equipa e um dos melhores da Premier League, Cole Palmer) e, agora, o Milan.
Das duas, uma: ou o internacional português está disposto a virar a página ou este arrisca-se a ser mais um tiro ao lado. Porque uma coisa é o Sérgio Conceição pai do amigo, outra é o treinador super exigente e com uma conceção de jogo não muito diferente de Diego Simeone e que não faz cedências nem ao próprio filho – como tem de ser.
Do ponto de vista teórico, via João Félix enquadrar-se melhor no Milan de Paulo Fonseca (antecessor do ex-técnico do FC Porto), que tentou, sem sucesso, pôr os rossoneri a jogar um futebol de mais posse e menos de transições. Além disso, o próprio Milan não parece, ainda, ser um clube estável, o que aumenta o risco para quem chega a uma realidade que não conhece - mais uma.
Mas nunca é tarde para mudar. Haverá o dia em que João Félix irá perceber que não é só ele que está certo e os errados são Diego Simeone, Graham Potter, Frank Lampard, Xavi, Enzo Maresca, Fernando Santos e Roberto Martínez. Talvez se olhar mais para o colega de Seleção, Bernardo Silva: um franzino, criativo e pensador que aprendeu a colocar a inteligência ao serviço do coletivo e conhecedor das suas próprias limitações. É por isso que nunca sai do onze de um Manchester City que continua a ser uma das melhores equipas do mundo e é titular numa das melhores seleções do mundo. 
Só mesmo ele poderá perceber o que fazer de diferente, como e qual o contexto que melhor o favorece. Aos 25 anos já terá a maturidade para gerir o erro de outra forma e encarar o futebol e a própria vida com outros olhos.
Torcemos para que haja esse click. E sermos testemunhas, por exemplo, da construção de conexões com Rafael Leão que possam ser transferidas para a Seleção Nacional e permitir a Portugal, de uma vez por todas, traduzir todo o seu talento numa estética vencedora. Será pedir muito?"

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