"Pode ter sido problema técnico, mas o facto de só uma câmara ter gravado o som no 'Caso do Túnel' fez enorme favor a Bruno de Carvalho.
Não se pode considerar uma surpresa aquilo que o acórdão do Conselho de Disciplina considerou ter ficado provado no chamado Caso do Túnel. Quem viu, logo no dia seguinte, as imagens captadas pelas câmaras de vigilância instaladas em Alvalade percebeu de imediato que nada de edificante por ali se tinha passado. Pelo contrário. O que se soube agora foi, apenas, a confirmação de que a grande maioria dos que dirigem os clubes portugueses - e repara-se, não estamos a falar de emblemas dos distritais, trata-se de presidentes de clubes de Liga, onde os padrões têm (ou deviam ter) de ser muito mais altos - não estão sequer perto de se saberem comportar da forma que o cargo que exercem exige. Podem ser homens de sucesso nos negócios, podem ter muito dinheiro. Mas há coisas que o dinheiro não compra: educação e urbanidade são só duas dessas coisas.
Do acórdão anteontem revelado por A Bola destaca-se também o facto de apenas uma das muitas câmaras instaladas no local ter captado o som daquilo que foi dito durante aqueles minutos. Curiosamente - em especial se tivermos em conta que foi o Sporting que as cedeu, 12 dias depois dos acontecimentos e quatro depois de ter sido notificado para o efeito - aquela que estava virada para o lado do balneário do Arouca. Ou seja, tudo (ou vamos acreditar que quase tudo) aquilo que Carlos Pinho disse consta do processo, mas nada do que disse Bruno de Carvalho pôde ser provado, pelo que ficou de fora. Vamos acreditar que se tratou de uma avaria técnica, que custou à SAD do Sporting uma pesada multa de 460 euros por não ter todas as câmaras a funcionar como deviam. Mas não posso, neste momento, deixar de referir que foi de enorme beneficio para o presidente do Sporting, apenas castigado pelo fumo/vapor de água que soprou para a cara do presidente do Arouca, que por seu lado apanhou pela medida grande (e justamente) porque tudo o que fez foi visível e tudo o que disse foi audível para os juízes. Há, de facto, coincidências que dão algum jeito.
Claro que a decisão do Conselho de Disciplina em castigar Bruno de Carvalho com seis meses de suspensão foi recebida em Alvalade com indignação. O presidente do Sporting voltou a recorrer ao Facebook (alguém acreditou que iria conseguir manter-se mesmo longe?) para atacar José Manuel Meirim, queixando-se de perseguição - teoria que, já se percebeu, pegou junto de todos aqueles que o apoiam. Bruno de Carvalho tem, é evidente, o direito de reclamar. Tem até o direito de recorrer para o Tribunal Arbitral do Desporto para fazer valer o seu ponto de vista. Nada a dizer quanto a isso - só chocam mesmo os termos utilizados, mas com isso Bruno de Carvalho parece conviver bem...
Outra coisa - e só para terminar - que não parece bater certo no discurso do presidente do Sporting é esta imagem de eternamente e injustamente perseguido por quem tem a função de aplicar as leis. Desde a sua chegada ao futebol português Bruno de Carvalho assumiu de forma aberta uma posição de rebeldia. Citando Jorge Palma, na música Jeremias o fora da lei, 'não estando disposto a esperar' que o futebol 'venha alguma vez a ser melhor', Bruno 'escolheu o seu lugar do lado de fora'. Será até, na ausência de títulos dignos de registo no futebol, essa atitude que mais consenso gera entre os sportinguistas - desde miúdos que somos moldados a nutrir especial simpatia pelos fora da lei - orgulhosos (pelo menos cerca de 86 por cento deles) por terem como presidente um homem sem medo de combater aquilo que consideram ser o poder instalado. Mas esta imagem que Bruno tão bem soube criar não cabe a forma como se apresenta sempre que o castigam por ir contra as regras. Não. Os verdadeiros foras da lei assumem sê-lo mesmo sabendo das consequências que daí podem advir. E nunca, mas nunca, se fazem de coitadinhos."
Ricardo Quaresma, in A Bola
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