"O desporto contribui para a aprendizagem do relacionamento com os outros e para a consciência de que dependemos deles para o sucesso. Leva à compreensão de que a vitória e a derrota são componentes que se sucedem e de que o esforço é elemento de progresso. Mas também tem aspectos perversos. Tende a centrar a pessoa em si mesmo como se fora o centro do mundo, em busca do rendimento; a transformar o adversário em inimigo; a considerar o resultado como objectivo único, correndo o risco de esquecer que os valores devem sobrepor-se ao desejo cego de ganhar.
O desporto é apenas um elemento de formação do carácter que se projecta nos acontecimentos desportivos. A educação e a cultura são determinantes.
As que se adquirem formalmente na Escola e, sobretudo, as que se procuram em constante desejo pessoal de crescer sem ficar limitado à coisa desportiva. Para que o desportista seja um cidadão consciente de si e do seu papel é necessário reflectir sobre a ética do viver em Sociedade e do estar no desporto.
Os treinadores são modelos para os praticantes que orientam, mas igualmente para todos os que gravitam na sua zona de acção e para aqueles a quem chegam pelos media. Por isso, exige-se-lhes o exercício de aperfeiçoamento pessoal para além da mera aprendizagem de técnicas e metodologias de treino. Ser um bom treinador está para além da obtenção dos resultados. Requer respeito pela condição humana dos discípulos e colegas. Implica perceber a insignificância dos resultados em razão da transcendência da ética e do respeito pelo outro. Obriga a não se julgar maior do que o contexto onde trabalha. Transporta a humildade de saber que os ciclos de vitória são finitos. O bom treinador pode sair vencedor mesmo quando perde em campo, enquanto o mau sempre perde, ainda que ganhe as competições."
Sidónio Serpa, in A Bola
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