"1. Em vez de fomentar e zelar pelo futebol, como é sua indeclinável obrigação, a FIFA (já profundamente abalada pelos escândalos de que a sua cúpula é acusada) destrói-o. E essa é uma culpa de que nenhum tribunal se ocupa, embora abundem as queixas dos clubes que, em vez de serem por ela tutelados, são explorados. Já não bastam os calendários pejados de jogos, alguns destes separados por apenas três ou até dois dias, para vir ainda esse organismo estabelecer datas exclusivas para a disputa de jogos ditos amigáveis entre as selecções. Daqui resultam quase sempre conflitos insanáveis: por um lado, porque os clubes ficam por vezes privados por semanas inteiras dos seus melhores atletas e, por outro, porque os viram partir em perfeitas condições físicas e regressar lesionados ou mesmo de muletas. Bem sei que, no caso português, isso só acontece porque a Liga e a Federação sofrem de estrabismo crónico e assobiam para o ar quando se lhes diz e se lhes mostra que o país não tem condições económicas mínimas para sustentar dignamente mais do que 12 ou, no máximo, 14 clubes na I Liga. Vejam o que aconteceu às quatro equipas que participaram na Liga Europa com excepção do Sporting de Braga?
2. Continuando no âmbito da FIFA, acrescente-se que os critérios adopta dos para determinar o ranking de cada país são tão abstrusos que acabam por não ter nenhuma aderência com a realidade. Daí não viria nenhum mal ao mundo se, depois na prática, isso não fosse seriamente lesivo nos sorteios para os campeonatos da Europa e do Mundo. Quem, por exemplo, pode compreender que a Argentina que não vence um Campeonato do Mundo desde 1986 (29 anos!) nem uma Copa América desde 1993 (22) lidere esse mesmo ranking? E que a Alemanha, campeã mundial em título, seja terceira atrás da Bélgica, apesar dos resultados por esta ultimamente obtidos e da revelação de novos talentos? À frente, portanto, de Espanha, Itália e Portugal? Simplesmente, grotesco!"
Manuel Martins de Sá, in A Bola
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