"Cá estamos novamente! Hoje celebramos o Dia Internacional da Mulher 2025 e é altura de destacar o caminho rumo à igualdade de género no desporto. Sem querer ser chata, vamos ser honestos – o que mudou concretamente no último ano?
Como podemos construir um futuro melhor para jovens mulheres, garantindo-lhes mais oportunidades, atendendo a que o ritmo de mudança é lento e falta muitas vezes vontade política para fazer reformas na governação que impliquem os homens cederem lugar a mulheres com a mesma competência?
O padrão ideal é a igualdade de género nas direções das organizações desportivas mundiais, mas estamos muito longe disso, com muitas organizações a orgulharem-se por terem uma (uma apenas!) mulher nos seus órgãos decisores. Desde 2019, a SIGA realiza estudos anuais independentes sobre a representação feminina nos principais órgãos executivos das 32 federações internacionais reconhecidas pelo Comité Olímpico Internacional (COI) e ainda não alcançámos os 30%. Em 2024, dos 206 Comités Olímpicos Nacionais (CON) membros do COI, só 24 eram presididos por mulheres – apenas 11,65% do total.
Ainda assim, apesar deste cenário, houve progressos relativamente aos anos anteriores. No ano passado, a UEFA alterou os seus estatutos para duplicar o número de mulheres no seu Comité Executivo – de uma para duas. Existem também cada vez mais iniciativas globais como Women in Sport (Reino Unido), Women’s Sports Foundation (EUA) e Play By the Rules (Austrália), destinadas a aumentar a presença feminina nas organizações desportivas e a dar poder às raparigas através do desporto.
Neste contexto, o desporto feminino não está simplesmente 'a viver um momento' – expressão que detesto – mas está a bater recordes históricos, com assistências inéditas em jogos de futebol feminino, enchendo estádios com mais de 80 mil pessoas – como acontece com a equipa feminina do Arsenal – e atraindo mais investidoras, como Michele Kang, Renee Montgomery, e figuras importantes ligadas ao Angel City FC. Os Jogos Olímpicos de Paris'2024 foram os primeiros da história com número igual de atletas femininos e masculinos, e em muitos países as mulheres conquistaram mais medalhas do que os homens, incluindo Estados Unidos, China, Austrália, Países Baixos e Coreia do Sul.
Os patrocínios ao desporto feminino estão também a crescer, embora ainda haja o velho dilema do ovo e da galinha: menos dinheiro investido comparativamente ao masculino devido a audiências menores e contratos mais baixos pelos direitos de transmissão. O desporto feminino não é caridade. Por isso, apesar dos avanços, temos de acelerar ainda mais esta mudança.
E o que podemos fazer individualmente? Há sete anos, o CEO Global da SIGA, Emanuel Macedo de Medeiros, desafiou-me a criar um programa global de mentoria para mulheres com ambição de liderar na indústria do desporto, implementando boas práticas de governação.
Admito que, inicialmente, não fiquei entusiasmada por me tornar o rosto da igualdade de género, pois senti na pele a dificuldade de ser aceite pelas minhas competências enquanto advogada na área do desporto, habituada a ser a única mulher na sala. Porque iria destacar o meu género, quando já tinha enfrentado obstáculos, como aquele sócio de uma reputada firma de advocacia desportiva que me perguntou numa entrevista quais eram as desvantagens de ser mulher? Aparentemente, muitas! Porque iria liderar um grupo de mulheres se, frequentemente, na minha experiência, as próprias mulheres criavam obstáculos, mantendo privilégios por serem das poucas?
Com o nosso programa de mentoria, rapidamente percebi que não estava sozinha. Vi também o poder das histórias pessoais – capazes de educar, inspirar e unir uma nova geração de líderes – sim, líderes, sem distinção de género – revitalizando e inovando o panorama desportivo.
Até hoje, a SIGAWomen já deu mentoria a mais de 300 mulheres pelo mundo, criando um espaço seguro para tratar assuntos difíceis e preparar as participantes com respostas que a sociedade gostaria de ter dado, mas que muitas vezes não tivemos coragem para dizer. No último ano, ligámos 150 mulheres de 32 países e este ano duplicámos para 300 mulheres de mais de 50 países, com planos para chegar às 1000 em 2026. Só este ano, entrevistei mais de 150 mulheres de 45 países para integrar o movimento SIGAWomen, que procura reduzir o fosso de género nas direções das organizações desportivas mundiais.
Aprendi que a igualdade de género varia conforme o continente, mas todas concordamos que é preciso trabalhar mais para apoiar as mulheres que querem liderar, dando-lhes confiança e competências para reconhecerem o seu valor. É isso que me move: construir esta comunidade de mulheres que preferem ajudar-se em vez de competir umas com as outras. Acredito que podemos aumentar o número de líderes femininas se tivermos aliados e patrocinadores e se nos apoiarmos mutuamente, não apenas no Dia Internacional da Mulher, mas todos os dias."
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