"A ver se nos entendemos: o respeito por todos os intervenientes no jogo é essencial para o sucesso, é determinante para o reconhecimento, é fulcral para a carreira.
Portugal é dos países europeus com maior escrutínio não oficial da atividade dos árbitros de futebol, vivendo alguns canais 24/7 news da polémica, da capacidade de catalizar audiências pela análise acutilante de especialistas, alguns deles vindos do setor da arbitragem para criticar os seus antigos companheiros de funções, outros, pura e simplesmente, defendendo interesses clubísticos e dando aos seus canais momentos de gáudio e algum gozo.
Abro um parêntesis para uma história que, creio, já vos contei neste espaço semanal: há não muito tempo, quando a ministrar formação no âmbito da comunicação da área desportiva num país africano de língua oficial portuguesa, questionei os formandos com a mais simples das dúvidas: «Quantas são as Leis do Futebol?» Reparem que perguntei quantas, e não quais.
Nenhum formando soube responder. E todos eles têm responsabilidades, pelo menos, semanais, na análise de jogos e, consequentemente, do trabalho de equipas de arbitragem.
Portugal tem feito um imenso esforço na valorização dos seus quadros arbitrais além-fronteiras, e Artur Soares Dias e o seu sucesso, culminando, a época passada, com a presença na fase final do Euro 2024 e na final da Liga Conferência, é apenas o derradeiro exemplo de uma lista que levou Vítor Pereira e Pedro Proença a patamares muito elevados, mas também Joaquim Campos, António Garrido, Carlos Valente, Rosa Santos, Duarte Gomes, entre outros nomes que marcaram épocas e que se notabilizaram com as insígnias da FIFA.
A arbitragem, ao mais elevado nível qualitativo exigido pelas instâncias internacionais, é uma atividade profissional, rigorosa, alvo de preparação e exame recorrente e continuado. João Pinheiro, que subiu ao grupo de Elite da UEFA no dia 1 de janeiro, é o mais recente exemplo, e ainda esta semana dirigiu o Club Brugge-Aston Villa para a UEFA Champions League, tendo sido observado, na Bélgica, pelo próprio Roberto Rosetti, o máximo responsável pela arbitragem da UEFA.
Também António Nobre esteve em ação, e Luís Godinho é, igualmente, um nome a ter em conta para o futuro (muito) próximo da melhor representação lusa nas instâncias internacionais.
Respeitar é essencial. O árbitro é o elemento de equilíbrio no jogo, e as suas alargadas atribuições exigem conhecimento profundo das regras, por parte de todos os intervenientes, e o seu máximo respeito, dentro e fora das quatro linhas, sobretudo por treinadores e dirigentes. Estes são elementos fundamentais, uma vez que as suas ações, comportamentos, reações, gestos, palavras, impulsos, são exemplos para os grupos que gerem, muitas vezes recheados de grande qualidade futebolística em potência, mas ainda com défice de experiência e maturidade e, portanto, profundamente influenciáveis pelos comportamentos que interpretam como modelos dos mais velhos e dos que detêm outras responsabilidades no grupo de trabalho.
Não raras vezes percebemos, da parte de treinadores da elite do futebol europeu e mundial, uma necessidade imensa de saída em defesa do grupo, ou, mais detalhadamente, do comportamento deste ou daquele jogador, justamente porque reconhecem que o espírito de grupo e de corpo, em defesa do coletivo e de um emblema ou camisola, é essencial para a manutenção da sua própria imagem e autoridade perante o grupo, e dos objetivos do coletivo que, como se sabe, ganham nas modalidades coletivas (e muito mais no futebol…), uma dimensão decisiva.
Ora muito do respeito, do equilíbrio e do sucesso das carreiras individuais e dos resultados globais têm exatamente a sua base na forma como cada um interpreta as suas funções, bem delimitadas no papel e na letra dos regulamentos, mas necessariamente flexibilizada (porque cada caso é um caso, cada cabeça é uma solução e, às vezes, pode ser um problema…), na prática, no momento, com toda a adrenalina resultante da vitrina da alta competição.
É aqui que entra o sangue frio, a capacidade de autodistanciamento, a obrigatoriedade de uma visão de helicóptero e de uma ação (ou inação), por parte dos mais experientes. Se é verdade que não creio ser a exuberância e a brusquidão bons atributos para árbitros de elevado quilate, do mesmo modo penso que os gestores do banco (sejam treinadores, integrantes das equipas técnicas, dirigentes ou elementos de apoio) têm um papel essencial na educação, na formação e na moldagem do caráter e da identidade das respetivas equipas.
Questionar de modo recorrente o trabalho de árbitros (José Mourinho motivou, até, o pedido de licença definitiva de um dos melhores juízes da sua geração, o sueca Anders Frisk, e Sérgio Conceição tinha, em Portugal, como norma de defesa o seu coletivo a insurgência sistemática em relação a decisões arbitrais), não me parece a melhor opção. E quando ela surge sob a forma grotesca e perigosa como Paulo Fonseca entendeu interagir com Benoît Millot (árbitro francês de insígnias FIFA), ultrapassamos uma linha vermelha e, obviamente, esse livre arbítrio tem de ser exemplarmente punido.
Aos que defendem uma menor punição, pergunto: se se tratasse de um treinador estrangeiro a trabalhar na liga portuguesa, teriam a mesma opinião?…
Cartão branco
Tem sido extraordinária, a carreira do Vitória SC na Liga Conferência. É essencial sublinhar que os vimaranenses iniciaram a temporada com um treinador, avançaram para uma solução de recurso e estabilizaram com a excelente contratação de Luís Freire. Continuam sem derrotas na sua campanha europeia na mais recente competição europeia da UEFA para clubes, e após o empate no Benito Villamarín, frente ao Betis de Manuel Pellegrini (um dos melhores treinadores da história do futebol sul-americano), todos os sonhos são legítimos. Verdadeiramente conquistadores, esperam-se as próximas cenas de uma história já dourada.
Cartão branco II
A evolução que o andebol português conheceu, nos últimos anos, é digna de filme. Com condições ideais de preparação, com estruturas de topo, com gestores inteligentes, com treinadores carismáticos e com jogadores de eleição, a seleção portuguesa fez o que jamais se pensaria possível, há alguns anos. Mas o Sporting vai pelo mesmo caminho, conseguindo, para já, e pela primeira vez, o acesso direto aos quartos de final da Champions League. Há qualquer coisa bem feita, a mudar mentalidades e a fazer evoluir resultados no andebol, em Portugal. Razão suficiente para um tremendo orgulho dos adeptos da modalidade."
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