"A demografia é a ciência que tem por objecto o estudo das populações humanas na sua dimensão (grandeza), na sua estrutura (composição de idades, sexos...) na sua evolução (crescimento, estabilidade, declínio...), do ponto de vista quantitativo. Ela procede a uma descrição numérica precisa das populações sob o seu duplo aspecto: estático (estado, estrutura, componentes) e dinâmico (evolução geral, movimentos internos). A demografia utiliza os recursos matemáticos, a estatística e as probabilidades (efectivos, percentagens, taxas...). Todos estes aspectos são devidamente contabilizados pelos recenseamentos, inquéritos e as sondagens que se realizam periodicamente.
Em Portugal, não se fala muito dela, mas a demografia desportiva é a mais recente das ciências sociais aplicadas. Ela assenta em dois ramos de análise: 1) uma análise dos efectivos globais dos praticantes (“stocks”) recenseados anualmente e a observação da sua evolução no tempo. Isto permite construir um histograma simples, em vários anos, e de desenhar a curva do ciclo de vida da modalidade desportiva em estudo; 2) uma análise do estudo dos movimentos internos de uma população de desportistas filiados num clube, numa federação, numa sala privada, etc. Ou seja, dos “fluxos de entradas” (adesões anuais) e de “saídas” (abandonos anuais). Estes fluxos, no interior do conjunto das populações desportivas, são designados de “turn-over”. É a partir dos dados fornecidos pelas federações desportivas que podemos observar o “stock” de praticantes e a sua evolução no tempo. As noções demográficas de “nascimento”, “morte”, “emigração”, “imigração”, por exemplo, são utilmente transpostas para as modalidades desportivas, como uma metáfora, designando processos mais complexos e reconhecidos: nascimento (primeira adesão) à modalidade; mortos (abandonos ou reconversões para outras desportos ou associações), chegada de trânsfugas vindos de outras modalidades ou de renovação da adesão, depois de uma interrupção (renascimento) (Pociello, 1999).
Se a demografia desportiva, como ciência, é recente, isto deve-se a vários factores: à incerteza das fontes; a ausência de interesse (ou à falta de percepção) destes fenómenos; a ausência de um pedido por parte das administrações de tutela do desporto (ou outras); às reticências (ou hostilidade) por parte das direcções dos clubes e federações face à evidência do declínio dos seus efectivos, não podendo esconder, assim, a extrema volatilidade do seu público de aderentes (De Bruyn, 2006). Diga-se também, de passagem, que aqueles que detêm muitas vezes a informação não estão disponíveis para a ceder.
As federações são obrigadas a produzir anualmente o recenseamento dos seus efectivos (“stocks”) ao seu ministério de tutela. Esses dados são, normalmente, classificados por categorias (até juniores, juniores, seniores, veteranos) e por sexos e depois totalizados.
Em Portugal, desconhecem-se trabalhos científicos sobre demografia desportiva. Fala-se de uma “demografia federada”, porque se estuda a dinâmica da população desportiva enquadrada no movimento associativo. Em França, Chevalier (1994) é considerada como a pioneira nesta área, tendo estudado, num quadro teórico interacionista, as trajectórias e os abandonos dos cavaleiros da Delegação Nacional dos Desportos Equestres, entre 1988 e 1992. Este estudo é o “ato fundador” da demografia desportiva. Os dados produzidos pelo ministério da Juventude e dos Desportos Francês permitiram fontes inéditas capazes de serem trabalhadas do ponto de vista demográfico. E em Portugal? É para quando?"
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