"Durante uma hora o Benfica foi subjugado por monegascos taticamente melhores. Na meia hora final, Lage redimiu-se, fez os ajustes certos, e foi uma Luz em festa que saudou a passagem aos ‘oitavos’ da Champions
«Tudo está bem quando acaba bem» é o título de uma peça de Shakespeare, que parecia uma comédia mas afinal era uma tragédia. Na Luz, para o Benfica, a obra do bardo de Avon assenta como uma luva, porque, ao eliminar o Mónaco, tudo acabou bem. Mas será que tudo está bem? Até a poeira assentar e deixarem de se ouvir os derradeiros foguetes lançados pelos adeptos encarnados, assim será. Depois, friamente, concluir-se-á que nem tudo está bem, e que os sorrisos que normalmente acompanham as comédias podiam ter sido lágrimas próprias das tragédias.
Num jogo de destino incerto, que provocou ritmos cardíacos nos 60.776 que estiveram no anfiteatro benfiquista mais próprios do sobe e desce de uma montanha russa, os donos da casa, que na Luz tinham conseguido apenas quatro dos 13 pontos com que se classificaram para este play-off, voltaram a tremer como varas verdes, revelando uma tremenda incapacidade para ter bola e ficando sistematicamente em inferioridade numérica a meio-campo, oferecendo o comando da partida à equipa do Rochedo. Pelo menos assim foi, de forma flagrante, até aos 58 minutos, altura em que Bruno Lage leu bem o jogo e deu ao Benfica o que lhe faltara na primeira hora.
Poder-se-á dizer que o Benfica até marcou primeiro, por Akturkoglu, aos 22 minutos, mas a verdade é que o fez na única tentativa, enquanto os monegascos, que mandavam no jogo, só à terceira é que meteram a bola no fundo das redes de Trubin, depois de o guarda-redes ucraniano e o poste direito da sua baliza salvarem os encarnados. E até ao fim da primeira parte, que terminou de forma emblemática, com o Benfica em pleno sofrimento perante um contra-ataque forasteiro, de dois defesas para quarto avançados, o melhor que aconteceu à equipa de Bruno Lage foi o árbitro sueco ter apitado para intervalo.
BANHO A MEIO-CAMPO
Mas o Mónaco, que nesta época já tinha perdido duas vezes com o Benfica, afinal era assim tão superior? Durante largos minutos foi-o, porque se organizou melhor. Enquanto o Benfica se apresentou num 4x3x3 em que nem Arkturkoglu nem Schjelderup se integravam no trabalho de apoio ao meio-campo, os monegascos, que optaram por três centrais, apoiados por dois alas que faziam os 105 metros do campo, chegaram a meter seis homens no meio-campo, onde foram reis e senhores, e demasiadas vezes levaram o perigo às redes de Trubin.
Liderado por Akliouche (fixem bem este nome) muito bem secundado pelo marroquino Ben Seghir, o Mónaco chegou à metade do jogo com um empate a uma bola que era lisonjeiro para o Benfica. O intervalo não mudou nada (a primeira parte fechara com uma vantagem de 39/61 em posse de bola para os monegascos!) e não fosse Trubin, aos 47 minutos, ter feito uma enorme defesa a remate de Ben Seghir, o que veio a acontecer quatro minutos depois, um grande golo de Ben Seghir a passe de Akliouche, teria sido antecipado.
LAGE NA ‘MOUCHE’
O Mónaco igualava a eliminatória e estava manifestamente por cima, o que não augurava nada de bom àquele Benfica. Felizmente para os encarnados, afinal havia outro: aos 58 minutos Bruno Lage trocou Schjelderup por Dahl e Akturkoglu por Amdouni e o jogo levou a volta que os benfiquistas tanto desejavam.
O extremo emprestado pela Roma foi jogar para a esquerda, Aursnes passou para a direita, o internacional suíço colocou-se nas costas de Pavlidis, enquanto que Barreiro e Kokçu faziam o duplo-pivot. Com estas mudanças houve maior solidez no meio-campo, mais apoio ao ponta-de-lança e tudo isto permitiu que o Benfica finalmente acordasse e partisse para uma meia hora final de excelente nível, pressionando alto e obrigando o Mónaco a baixar linhas.
Quando Pavlidis empatou, dos onze metros, o jogo (76), esse resultado já se justificava e até se chegou a pensar que o Benfica ia em busca da vitória no jogo e não apenas na eliminatória. Do outro lado, Adi Hutter, aos 80 minutos, passou a defesa a quatro, mudou de ala esquerdo (entrou Ouattara) e apostou num segundo ponta-de-lança, Ilenikhena, que foi fazer companhia a Biereth, substituto de Embolo, aos 65 minutos. E foi feliz, pois um minuto depois Ilenikhena, rematou uma bola defensável que Trubin deixou passar por baixo do corpo. O Mónaco voltava a empatar a eliminatória, desta vez sem justiça, e a Luz passou de estado de emergência a estado de sítio.
Mas os deuses do futebol não estavam de costas voltadas ao Benfica e aos 84 minutos Kokçu, com um toque subtil, deu o melhor caminho a um passe de grande nível de Carreras. Os encarnados voltavam ao comando da eliminatória, mas em noite de bruxas à solta (e especialmente depois do que aconteceu com o Barcelona), ninguém dava nada por garantido. Aos 88 minutos Bruno Lage voltou a estar bem, quando tirou Pavlidis e lançou Belotti, que, fresco, foi importante na primeira luta dada às saídas de bola do Mónaco, puxou Aursnes para o meio, saindo Kokçu, e fez entrar João Rego para a direita, e acabou por ver o Benfica mais rico 11 milhões de euros, e com a honra de estar nos oitavos de final deste novo formato da Liga dos Campeões..."
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