"Duas derrotas do ponto de vista português e essa curiosidade de as eleições poderem realizar-se ao mesmo tempo que se conhece outra grande decisão. O futebol e política sempre de braço dado
Caiu o Benfica no mesmo dia em que caiu o Governo. Não é vulgar juntar as duas ideias numa frase, mas os tempos que vivemos são cada vez mais estranhos. Conceitos que tomávamos como surpreendentes num passado não muito distante são hoje uma espécie de «novo normal», essa expressão cunhada há exatos cinco anos quando uma pandemia emergiu para virar o mundo de pernas para o ar e cujas consequências ainda estão bem à vista – não, não ficou tudo bem.
Ao mesmo tempo que as águias sofriam no Estádio Olímpico de Barcelona, no Parlamento assistia-se a outro tipo de transições defesa-ataque, basculações ou recuos, estes de contornos bem mais difusos e até inéditos que os colocam no futuro livro de memórias coletivas, mas não pelas melhores razões.
Na perspetiva nacional, foram dois jogos com derrota: um país que avança para a quarta eleição em cinco anos e meio (nunca visto) revela sinais que roçam a esquizofrenia, ao passo que no jogo jogado na maior montra europeia mais uma vez a regra voltou a sobrepor-se à exceção: Portugal não terá representantes nos quartos de final da Champions – anda, Vitória, agora és o único embaixador de uma nação que aí viste nascer, mesmo que a única esperança lusa esteja na terceira competição da UEFA. Es lo que hay.
Muitos dirão que o que se viu na Catalunha foi muito mais belo do que em São Bento, embora com tonalidades azul grená em vez do vermelho. Porque quando está no ponto, este Barcelona é temível, que o diga o Real Madrid, goleado por duas vezes pelo grande rival nesta temporada. Lamine Yamal é um génio que merece elogios de todas as nacionalidades.
O problema é outro, quando os culés não estiveram no seu máximo nos outros jogos anteriores com os encarnados (como noutros nesta temporada), à formação de Bruno Lage faltou sempre qualquer coisa: os jogadores que não saltaram nos cantos (como bem lembrou o treinador em conversa acalorada com os adeptos) ou a incapacidade de aproveitar superioridade numérica durante 70 minutos. O que não colhe é o argumento da frescura física: recorde-se que o Benfica descansou no campeonato antes da partida da primeira mão dos oitavos de final. Não aproveitou as vantagens e pagou caro na cidade condal.
Regressa assim a velha narrativa bem conhecida neste cantinho à beira-mar: os grandes em Portugal (mas apenas classe média na Europa) voltam a olhar apenas para dentro. Agora há um campeonato e uma Taça de Portugal para disputar, dois títulos que terão os velhos rivais de Lisboa em posição de destaque, adivinhando-se, nos próximos dois meses, uma luta tão intensa quando a campanha eleitoral. Que sejam ambas dignas.
Num país onde o futebol e a política andam tantas vezes de braço dado, os atros colocaram o dia das eleições a bater com um dia de grandes decisões na bola. Marcelo Rebelo de Sousa terá muitas coisas em que pensar, mas não ficará alheio ao facto de uma das datas disponíveis (11 de maio) poder ser o do dérbi na Luz que pode determinar o próximo campeão.
Poderá ser o chamado novo teste à maturidade do povo, que há um ano deu mostras de conseguir conciliar dia de jogo com o dia de voto, esse tabu que resistiu durante tantos anos. Nem tudo é mau."
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