"Cismava eu sobre o que escrever a propósito da Assembleia Geral de aprovação do Orçamento do SLB para 2024/25, em que constato números que suscitam elevadíssima preocupação, quando rebenta hoje a "bronca de Verão" no meu Clube: segundo o Record, há riscos de rutura na Luz, ou seja, andam de "candeias às avessas", Luis Mendes e outros administradores da SAD, com Fonseca Santos (Presidente do Conselho Fiscal) pelo meio.
Fiquei siderado! Não tendo acesso a informações privilegiadas, fico a pensar se porventura as minhas preocupações quando analiso um Orçamento em que os FSE’s atingem 27,4 M euros (previsão para 2023/24 de 30,9 M euros – inclui o futebol feminino que para o ano sai para a SAD) e as amadoras atingem o custo de 28,7 M euros (cerca de 32,9 M euros como "previsão 2023/24", com futebol feminino) estarão na origem de tais divergências, sobretudo quando leio que está metido ao barulho o Conselho Fiscal?
Sem respostas para saber o que se passa no interior do meu Clube, pergunto-me se a perda do campeonato nacional precipitou divergências latentes. Entrando pela SAD, as Contas publicadas no 1º semestre de 2023/24 demonstram que, excluindo transações de atletas, temos receitas de 106 M euros para gastos de 139 M euros – ou seja, um défice de cerca de 33 M euros, o qual, anualizado, será de uns 66 M euros! Um problema crónico que se arrasta desde há vários anos e que tem enormes reflexos na competitividade do nosso futebol profissional – obrigado a vender os melhores para equilibrar as Contas, tipo "pescadinha de rabo na boca"…
Esta realidade tem de causar mossa no dia-a-dia do Clube. Se depois vemos o Clube igualmente com FSE’s elevados e custos com Pessoal na casa dos 20 M euros, temos forçosamente de concluir que o "barco tem excesso de peso" e qualquer gestor que se preze há muito que teria alijado custos para aguentar o "barco à tona de água". Assim, será de facto surpresa existir um conflito entre a Gestão e o Conselho Fiscal (com um elemento comum entre o Clube e SAD), ainda por cima quando o Presidente Rui Costa promete reforçar apostas nas modalidades para tudo ganhar em 2024/25?
Sinceramente, o que eu esperava era ouvir o Presidente Rui Costa vir propor aos Sócios uma profunda reflexão sobre a continuidade das modalidades amadoras, dada a sua frágil sustentação económica. Se olharmos para a origem das receitas que totalizam apenas 5,9 M euros, vemos que a quotização dos Sócios é apenas de 2,1 M euros [10% das quotas totais (que estimo em 1,8-2 M euros), mais a parte diretamente afeta e que resulta de uma proposta que fiz há muito anos numa Assembleia Geral de se pagarem 60 euros anuais – 0,1 a 0,3 M euros].
Não tendo acesso a números reais, deduzo por aqui que seguramente nem 5 mil Sócios pagam as quotas das amadoras. Se a esta realidade somar a visão habitual do pavilhão meio cheio (ou meio vazio) na esmagadora maioria dos jogos das amadoras, a pergunta a fazer é: os Sócios querem mesmo ter as amadoras? Porque, ao invés desta realidade, as assistências ao futebol tiveram uma média de 56 mil espetadores e a lista de espera dos cativos supera, ao que consta, os 14 mil interessados. Parece claro que os Sócios querem é bola e acham graça às amadoras!
Sinceramente, acho absolutamente premente esta discussão, porque a realidade dos números assim o exige e não me venham dizer que é um escândalo ousar suscitar o tema quando no emblema temos uma roda de bicicleta e ninguém exige ter o ciclismo como modalidade! Veja-se lá fora: o Real Madrid só tem basquetebol e não se dispersa a despender energias (€€€) inúteis. Relembremos os números: para 2024/25, as amadoras irão custar (líquido de receitas imputadas) 22,7 M euros e em 2023/24 a previsão é de 24,3 M euros. Quem financia? O futebol, pois claro.
Claro que ser campeão no basquetebol e no voleibol (masculinos) como formos este ano é importante (o hóquei também está na luta). Como os sucessos do desporto feminino em que este ano fomos campeões no futebol, basquetebol, andebol e futsal. Indiscutível que os Sócios gostam e afogam com estes sucessos as mágoas da bola. Mas enquanto com os insucessos do futebol discutem até à exaustão durante semanas e meses, quantas vezes com insultos soezes, confessem lá quanto tempo os Sócios "choram" pelos inêxitos no andebol e futsal (masculinos)?
Resumindo, o Benfica (Clube/SAD) precisa de enorme reflexão estratégica nas diversas vertentes (i) futebol profissional, (ii) modalidades e (iii) estruturas. Uma coisa eu sei que agora não deveria ter: esta guerra interna como a que veio para os jornais em vésperas de uma nova época desportiva do futebol. Mas como a realidade é a que é, perante estas disputas internas, se calhar o que Clube/SAD precisa mesmo é de uma clarificação urgente que só a antecipação de eleições pode proporcionar."
Manuel Boto, in Record
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