"Não há Krovinovic mas há alternativas que permitem manter esta tendência ascensional. Existe muita qualidade subaproveitada no plantel.
A lesão grave do jogador croata do Benfica Krovinovic, associada a recuperação complexa e prolongada, foi uma má notícia para os adeptos benfiquistas nesta fase do Campeonato, a única prova que resta ao emblema da águia. Consideramo-no a peça fundamental que alavancou a equipa e deu alma à mudança de sistema recentemente operada, embora tivesse demorado uma eternidade a ser decidida. É matéria para treinadores solucionarem, mas só não via quem não queria. Impunha-se, pois, mudar, por duas razões fundamentais, ambas de braço dado com Rui Vitória.
1.ª - Herança de Jesus
A primeira tem a ver com a necessidade de Rui Vitória se libertar da herança de Jesus. Como já escrevi, soube explorá-la com argúcia, sabedoria e competência. De aí os dois títulos de campeão nacional conquistados. Absurdo seria esparramar o que custou a erguer sem atribuir relevância ao que se lhe deparava bem feito. Apesar das diferenças de pontos de vista que devem respeitar-se, nos seis anos do seu consulado, nem tudo o que Jesus fez foi acertado e nem todo foi errado. Como não possui o dom da infalibilidade, mesmo que ele pense o contrário, ganhou e perdeu em doses que se equivalem.
Vitória foi prudente e de fina inteligência ao valorizar o trabalho realizado pelo antecessor e, em consequência, enriquecer um pensamento de jogo com o qual, provavelmente, se identificaria menos. Com essa atitude desempoeirada revelou um espírito aberto e tradutor de uma visão do futebol não coincidente com a de quem lá estava.
Surpreendeu e superou as expectativas mais animadoras, mas deixou-se distrair na activação do processo de transfiguração que se exigia: cortar com o passado, eliminar comparações estéreis e, definitivamente, colocar a assinatura num projecto, agora sim, da sua inteira e... única responsabilidade. Vitória distraiu-se porque devia ter intervindo logo na transição da última época para esta: não deixar arrastar uma situação que dava indisfarçáveis sinais de saturação de equívocos que tem prejudicado o desempenho global da sua equipa.
Em boa verdade, o Benfica deu meia época de avanço aos principais emblemas oponentes.
2.ª - Enfim, um novo ciclo
A segunda razão aparece ligada à política do clube no que se refere a entradas e saídas, ou sobre gastos a evitar e receitas e alcançar, sem ferir o plantel na ambição, nem no potencial futebolístico. Ou seja, a contradição mal esclarecida entre mais expressiva representação de jovens da formação no plantel e apetência pela contratação fácil, em significativa parte dos casos tentadora para os comissionistas e penalizadora para os clubes.
Tal como não aprovo a ideia de se atribuir à venda de jogadores influentes na temporada transacta a causa de todas as atrofias de que a equipa padeceu até Dezembro último, recuso igualmente qualquer tentativa de se aproveitar o afastamento de Krovinovic para, daqui em diante, se prolongar inusitado e inaceitável ciclo de pobreza exibicional.
Krovinovic é bom de bola? Claro que é, mas só começou a ser utilizado com regularidade a partir de Novembro. Além disto, entende-se mal o casamento de conveniência entre o benevolente prazo para sua integração e a explicação usada para a sua exclusão na lista na Liga dos Campeões e... em quase tudo. Simplesmente, contava pouco.
A aposta em novo modelo táctico jamais poderia estar dependente da inclusão de Krovinovic, porque se assim fosse, e nessa impossibilidade, o clube, em tempo oportuno, teria procurado no mercado outro nome com o cuidado que não houve. Comprando o que verdadeiramente fazia falta em vez de preencher o plantel de inutilidades ou por aí: de praticantes vulgares não trazem virtudes.
Sem Krovinovic, Rui Vitória nada tem de alterar de substancial. É um problema? Sim, sem dúvida, mas resolúvel. Afinal, o jovem croata só deu à luz há mês e meio, com imensos dotes, sim, mas cuja ausência forçada não pode ou não deve provocar embaraço que não se consiga desembaraçar.
Se é nos momentos difíceis que os grandes treinadores se chegam à frente, Rui Vitória recebeu um sinal dos deuses. Agora como nunca está nas suas mãos segurar no leme e manter a nau encarnada no rumo que a poderá guiar ao triunfo no Campeonato.
Não há Krovinovic, mas há alternativas internas que permitem manter, e acentuar, esta tendência ascensional. Existe muita qualidade subaproveitada. Assim o treinador seja capaz de separar os que querem lutar dos que tanto se lhes dá. Daqueles que, se calhar, recebem dinheiro de mais e retribuem com talento de menos, ou nenhum talento.
De certeza que Rui Vitória já reparou nisso..."
Fernando Guerra, in A Bola
Louvo o comentário, sempre pertinente, de Fernando Guerra, mas sinceramente, o pretenso "avanço" que o Benfica concedeu aos adversários, no 1° terço do Campeonato , é muito mais SUBTIL do que o artigo deixa transparecer. Sem querer "apontar o dedo" aos responsáveis por essa situção ,( tenho a minha ideia mas o tempo não está para divisões...),a realidade é que AGORA TEMOS DE CORRER...e muito..., atrás do prejuízo . Oxalá não seja tarde demais.
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