"Este Benfica mostra que é legítima a ambição do penta. E esta busca centra-se nos relvados e está para além do que outros jogam fora deles.
1. O Benfica venceu ontem em Santa Maria da Feira e sabe que até ao final desta Liga só jogará na Área Metropolitana de Lisboa. Foi uma vitória suada e inequívoca, categórica e estimulante. O Benfica desde o primeiro minuto procurou a baliza de um Feirense que tudo fez para contrariar a força e a vontade desde Benfica de Rui Vitória. Este Benfica mostra que é legítima a ambição da conquista do penta. E esta busca centra-se nos relvados e está para além do que outros jogam, e bem, fora deles. Este Benfica, com Rúben Dias a ser chamado por Fernando Santos e com Rafa a mostrar-se para a Rússia, é um verdadeiro colectivo. Há unidade e há determinação. Há convicção face ao objectivo principal da época. E, agora, o Benfica só depende de si. E quando vemos Luisão saltar, com aquela alegria que nos contagia, no momento do segundo golo percebemos bem que estes jogos jogadores merecem o impressionante e fervoroso colinho dos adeptos benfiquistas. E sabendo todos ultrapassar constrangimentos, receios e, porventura até medos. E, permitam-me, no momento em que o Feirense comemora 100 anos de vibrante histórica no desporto do distrito de Aveiro, de evidenciar a partilha de cores em muitos lugares das bancadas do Estádio do Feirense. E esta partilha mostra que há rivalidades mas há acima de tudo amizades. E em Santa Maria da Feira, como em muitos outros lugares, há homens e mulheres que se conhecem e que não se guerreiam. Há, sempre, abraços aguardados, afectos declarados, gentilezas insistentes e acenos temporários. E provocações que se permitem e aceitam. E, acreditem, não são precisas muitas análises sociológicas para percebermos que o verdadeiro desportista encontra e abraça o adversário. O conceito de inimigo fica para outros e artistas que os novos tempos vão exibindo e, sem que eles reparem, os vão lentamente destruindo. Mas essa mágoa ficará para outro momento e para outra análise.
2. (...)
3. O saudoso Senhor meu Pai partiu quase há seis anos. Senti-lo e tocá-lo são privilégios que perdi. A sua presença, o seu caminhar hirto, senhorial, o seu humor refinado, a sua crítica contundente e a ternura do seu beijo são, sempre, memórias presentes, sensações ainda vivas e fulgentes. Com ele aprendi a ser de um clube e a respeitar os outros. Com ele lia este jornal em voz alta. Com ele vi muitos jogos do distrital de Viseu. Com ele vi jovens jogadores cheios de talento que deixavam Viseu e sorriam para o mundo. Com ele aprendi a sentir o Direito e a perceber o torto! E em cada dia do Pai, depois desse Junho de 2012, fico-me num silêncio que me chama para me oferecer o caleidoscópio de imagens que sempre guardarei como tesouro único para o resto da minha vida. E, amanhã, quando entrar, logo pela manhã, no Tribunal que me absorve há quase trinta sessões, não deixarei - com a força e a raça do Paulo e a serenidade da Rita - de folhear um livro que ele me ofereceu e, logo, com duas notas bem pessoais. A primeira que fora editado no ano do meu nascimento, 1956. A segunda, a determinante, para que nunca me esquecesse do seu conteúdo logo que regressasse - o que ele ardentemente desejava! - ao exercício da profissão e ao ambiente das salas de audiências. O livro de Angel Osorio Y Gallardo tem o título A Alma da Toga e merece ser lido por juristas e não juristas. Ali lemos que «para combater a ira não há antídoto mais eficaz do que o desprezo. Saber desprezar é o complemento da força interior. Desprezo para os venais e para os que se deixam influenciar, para os hipócritas, os néscios, os assassinos traiçoeiros e para os cães que ladram». E lendo toda a Alma e conhecendo o direito profissional do advogado - tão esquecido e tão ignorado - temos consciência, no momento e perante concretas circunstâncias, dos deveres dos advogados, das exigências e limites do segredo profissional e dos factos com ele conexos e, ainda, do dever de segredo que atinge a administração da justiça e a própria protecção do Estado. Como ressalta do Constituição da República e do conjunto de direitos, liberdades e garantias aí consagrados. Sabendo sempre que a toga «tem para os que a envergam dois significados - freio e ilusão, e para quem a contempla, outros dois, distinção e respeito». E o que vemos, em muitas situações, e no reino da justiça portuguesa é que não há freios, multiplicam-se as ilusões, perdeu-se o respeito e o se distingue é mais o torto do que o direito. E fazendo-se uma justiça avulsa na nova praça pública em que todos sabem de direito, muitos conhecem todos os indícios e outras ainda, deslumbrados pelas novas luzes de uma ribalta sempre transitória, falam, falam e falam do que conhecem e do que não sabem. E os que se calam, em nome da alma da toga, são, por vezes em perturbante surdina, criticados!
4. Nos quartos de final da Liga dos Campeões e da Liga Europa deparamos com dados bem interessantes. Os oito apurados na Liga Europa representam oito diferentes ligas. É aqui que encontramos a portuguesa (Sporting), a russa (CSKA) e a austríaca (Salzburgo). E também a francesa (Marselha). As restantes doze equipas apuradas para as duas competições saem das quatro potências do futebol europeu: Espanha (4), Inglaterra (3), Itália (3) e Alemanha (2). E os nomes habituais destes momentos finais repetem-se época a época. E logo no arranque de Abril com a repetição nos quartos da final do ano passado, um Juventus - Real Madrid. E com uma disputa inglesa - Liverpool - Manchester City - a levar-nos a uma convicção que o sorteio pode determinar, se a sorte o indicar, uma meia-final espanhola! Coisas que só o sorteio, sempre puro, pode concretizar!
5. Jean-Paul Sarte, um nome respeitado na história do pensamento universal, deixou-nos um comentário cuja actualidade determina a sua alusão: «O mais importante não é aquilo que fazem consigo, mas sim o que tu fazes daquilo que fazem contigo». E esta frase é bem real em tempos de diferentes violências e de múltiplas impunidades! Que anestesiam as reacções ética, jurídica, política e cultural de uma concreta sociedade. Quando se presente que não há conserto a violência, nas suas múltiplas formas, fica banalizada (tudo é assim) e, pior, naturalizada (sempre foi assim). Talvez fosse útil que a sociologia e antropologia, pelo poder real do futebol português. Em tempo feliz de Quinas de Ouro!"
Bagão Félix, in A Bola
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