"Ou estaremos a cuspir no prato que nos dá de comer.
A discussão arrasta-se, e não tem fim à vista, ainda mais nos tempos que correm devido à amplificação do ruído e da polémica nos programas televisivos praticamente diários.
Sempre fui a favor da discussão. Os temas é que são errados.
Não deveriam todos estar a debater se é saliva ou vapor de água – e escrevo «deveriam», porque excluo-me desse tipo de debate –, se há ou não agressão e quem agride primeiro e a quem, e comparar, lado a lado, com temas dos passados recente e da outra senhora.
Deveria perder-se tempo a pensar é como, em pleno século XXI, os túneis ainda são o prolongar de tudo o de mau que tem o desporto, mesmo agora debaixo do ângulo fixo das câmaras, que deveriam pelo menos inibir os intervenientes de actos menos reflectidos.
Concordo com uma manchete que vi entretanto. É o «túnel da vergonha», como são todos aqueles em que se passam situações semelhantes. Seja saliva, seja vapor de água, seja um ou outro a começar, haja ou não antecedentes, é tudo mau de mais. E o prolongar de tudo isto é infernal.
O que aconteceu – e acontece um pouco por todos os estádios – é desvalorizar o produto que se cria.
Tal como se insinua ou afirma sobre árbitros e arbitragens.
Tal como quando a justiça é lenta e ultrapassa os limites do razoável.
(Sim, o produto não é brilhante: o futebol jogado poderia ser melhor, os estádios estar mais cheios e os craques ter uma maior expressão por metro quadrado, mas é o que temos e é aquele que tem de ser defendido)
Este tipo de comportamentos ainda faz infelizmente sentido num país que não gosta do jogo, mas apenas de ganhar. Mas ganhar para gozar o próprio, para ficar por cima, para se sentir superior ao outro. Ganhar por comparação ao que perde, já nem apenas pelo prazer de ganhar, que só por si está afastado dos verdadeiros valores desportivos.
O mesmo país que passa dias a discutir penáltis, foras de jogo, a insultar árbitros, a acusá-los de corrupção à boca-cheia, e que propaga a ideia da mania da perseguição como desculpa para derrotas e culpa própria.
Ainda o que se divorciou do estádio e do prazer do golo ao vivo, e passou de discuti-lo entre pires de tremoços e minis para fazê-lo nas redes sociais, muitos agora protegidos por avatares e por um confortável anonimato, que acham que lhes dá direito a dizer tudo e mais alguma coisa, em agressão permanente, sem respeito algum por pessoas com direitos iguais.
Era bom que todos os túneis da vergonha, e tudo o que o de mau rodeia o futebol português, desaparecesse como vapor de água. Ou estaremos sim a cuspir no prato que nos dá de comer."
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